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  • Por Wiliam Lenerneir e Sandro Lüdtke

Quinto bioma mais rico do planeta, Mata Atlântica atrai observadores de aves do mundo todo

A região da Serra do Mar no Paraná possui 340 espécies de aves, sendo 200 somente nessa localidade.

Pica-pau de cabeça amarela (Crédito: Ornithos)

Cada turista que desce a Serra do Mar por trem ou via Estrada da Graciosa se encanta com a natureza exuberante, o maior fragmento de Floresta Atlântica remanescente do Brasil. Entretanto, uma parcela desse encanto se deve à presença de uma fauna bem específica: a quantidade e variedade de aves na região.

Talvez, para um distraído turista, isso passe despercebido, mas, com um pouco de atenção e técnica, logo se nota a presença de várias aves piando, apoiadas em galhos de árvores. Os chamados "observadores de aves" são pessoas que, antes de mais nada, possuem uma audição afinada.

O primeiro indício da presença de uma ave nas redondezas é pelo seu canto. Observar e registrar, por meio de câmera fotográfica ou vídeo, o maior número de espécies de uma região é o objetivo deles; e o Paraná, é referência internacional nessa atividade.

Tendência em outros países já há alguns anos, esse "movimento" ancorou no Brasil e já tem vários adeptos. Pesquisadores, amantes da natureza, fotógrafos, esses e tantos outros profissionais afinados ou não com a causa ecológica são o perfil desse grupo de observadores.

A maioria dos observadores são homens, mas as mulheres, embora em menor número, têm mostrado interesse cada vez maior nessa prática. Segundo o observador de aves João Henrique Dittmar Filho, 64 anos, tecnólogo de informação, a prática de observar aves vem desde a infância e foi se aprimorando com o tempo. Confira :

Para conferir a entrevista completa clique aqui.

Antigamente somente algumas pessoas se interessavam, profissionais ligados à área da biologia e ecologia. Hoje, essa realidade se estende a qualquer um que tenha disposição, goste de natureza e domine as ferramentas necessárias.

Além disso, há de se obter informações mínimas da região a ser visitada e as espécies de aves existentes por lá. Para o observador de aves Roberto Cirino, 51 anos, web designer, que já é observador há cinco anos, a observação de aves é bastante comum, mas passa despercebida pelas pessoas. Por isso, a arte de observar aves se torna prazerosa pelo fator curiosidade que cria. De acordo com ele, a conservação vem com o conhecimento, e observar aves é conhecimento.

Confira a entrevista na íntegra clicando aqui.

Aves na rede

Outro aspecto interessante são os sites e redes sociais em que são publicados os registros. O que tem base no litoral do Paraná é chamada de Ornithos. Outros endereços também são Passarinhando e Wikiaves.

Só o site Ornithos conta com uma média de 4.500 seções e quase 12.000 visualizações de páginas mensais. O crescimento da observação de aves no Brasil contribuiu para que hoje cerca de 45% dos acessos sejam de brasileiros. Em segundo estão os EUA, com cerca de 20%, seguido pelo Reino Unido com quase 10%. Cerca de 60 países completam os 25% restantes.

O projeto Ornithos

Ornithos em grego significa orni (ave), esse projeto foi criado exclusivamente para publicar a riqueza de espécies na região. Luciano Amaral Breves, publicitário, encabeça o projeto desde 1999, mas somente em 2008 foi que ele decidiu monitorar áreas de preservação em tempo real e sem a interferência da presença humana.

Por meio de câmeras devidamente posicionadas, as Livecans, ele transmite online para o mundo todo imagens de "santuários de aves" que impressionam os visitantes do site. "Para nós que moramos aqui é normal ver aves o tempo todo, mas para quem reside em regiões frias não acredita em toda essa diversidade", pontua ele.

“Em 2008 mudei com minha esposa para Morretes, no Paraná, para ficarmos mais próximo do foco do meu trabalho, os remanescentes da Mata Atlântica e sua fauna. Como de costume montei um comedouro para atrair aves e em pouco tempo um número enorme delas apareceu", relata Breves.

Luciano Breves em uma expedição de observação (Crédito: Wiliam Lenerneier)

"Se eu pudesse mostrar aquelas aves incríveis para o mundo talvez as pessoas se apaixonassem e entendessem a importância da preservação. Então, a ideia da câmera ao vivo com monitoramento surgiu", destaca Luciano Breves.

O que o motivou a iniciar o projeto foi uma viagem que fez em 1997 pelo Brasil. “Eu vi as florestas sendo queimadas e a vida silvestre que pensei que encontraria não estava mais lá. Então pensei que alguém deveria mostrar as belezas que estávamos perdendo e decidi começar a filmá-las”, comenta ele.

Santuário de aves

Já há muitas informações sobre a vasta variedade de fauna e flora na Mata Atlântica. Porém, não se imaginava a quantidade de aves escondidas mata adentro. Segundo Breves, já são mais de 400 registros só nos últimos nove anos, e todo dia surgem novidades de espécies que só ocorrem nesta região (endêmicas), outras que foram introduzidas (exóticas) e as que estão somente de passagem (peregrinas). Por isso, a quantidade de aves é impressionante.

Gralha Azul (família Corvidae) símbolo do Paraná (Crédito: Ornithos)

Uma das mais famosas é a Gralha Azul, considerada ave símbolo do Paraná. Lá, é possível ver bandos migrando de árvore em árvore, quebrando pinhas e indiretamente semeando o chão de novas araucárias.

Mesmo assim, encontra-se em situação preocupante quanto ao risco de extinção devido a destruição da Mata das Araucárias, um de seus habitats prediletos. Responsável pela disseminação das sementes da araucária ela enterra o pinhão para guardar alimento, ocasionando o crescimento de novas árvores.

Outro exemplo é a ave Mãe da Lua. Possui uma adaptação única em aves chamada de "olho mágico". São duas fendas na pálpebra superior que permitem ficar imóvel por longos períodos, observando os arredores, mesmo de olhos fechados. O nome urutau é tupi e significa “ave fantasma”. Seu canto é considerado "macabro" pelos moradores da região e capaz de causar medo nos visitantes desavisados. Confira o vídeo e ouça seu canto:

Outro exemplo é o Mocho-diabo (Asio stygius), que possui dois tufos semelhantes a orelhas acima da cabeça. Alimenta-se de pequenos mamíferos, como morcegos. Quando caça, move-se de poleiro em poleiro, um tipo de coruja que quando fica com as asas fechadas lembra o personagem "batman" do cinema.

(Crédito: Ornithos)

Penélope Obscura ou também conhecida como Jacuguaçu é uma espécie bem conhecida na região que tem como aspecto comportamental de abrir e fechar as asas intensamente quando está muito agitada, e como tique sacudir a cabeça.

(Crédito: Ornithos)

Aves em risco

Com o avanço do desmatamento, a preocupação com aves aumenta, pois o habitat vem diminuindo a cada queimada ou corte de árvores. A área remanescente de mata nesse trecho do Paraná é cerca de 2 milhões de hectares; isso torna a região um patrimônio a ser preservado, apesar do avanço de áreas urbanas.

O trecho paranaense seguindo pelo litoral se estende da divisa norte do Estado com São Paulo (Ilha do Cardoso), corta toda planície litorânea envolvendo a Serra do Mar até a divisa sul com Santa Catarina (Itapoã).

Segundo dados da Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), no Brasil 235 quilômetros quadrados de florestas nativas vieram abaixo entre 2011 e 2012. De cada dez hectares derrubados no país, um foi devastado no Paraná, que ocupa a quarta posição entre os estados que mais desmataram floresta atlântica.

A necessidade de manter esse bioma preservado é importante: as aves e outras espécies necessitam de espaço para procriar, pois disputam comida e área para sobreviver. Tal é a importância da região que foi considerada Reserva da Biosfera da Unesco. A floresta nesse trecho é contínua e com poucas cidades . O Paraná além do litoral, possui o Parque Nacional do Iguaçu e alguns spot's ao longo do Estado. Observe abaixo os mapaa com o avanço da devastação ao longo dos anos.

(Crédito: antesqueanaturezamorra.blogspot.com.br/2013)

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