Especialista alerta para a importância de não se pular as fases da infância
Estimular hábitos adultos prejudica no desenvolvimento infantil. (Créditos: Liliane Jochelavicius / Jeniffer Oliveira)
A problematização da adultização infantil voltou à tona nas últimas semanas devido a uma campanha lançada pela Secretaria de Estado de Assistência Social do Amazonas, intitulada “Criança não namora, nem de brincadeira”, no último mês. O assunto despertou a preocupação de pais e educadores, propondo uma reflexão de como está sendo o tratamento com os pequenos. Especialistas na área alertam para possíveis consequências de privar as crianças destas etapas tão importantes para um bom desenvolvimento físico e psicológico.
A pedagoga e orientadora educacional Jucimara Chiarello adverte para alguns comportamentos que podem ser prejudiciais. “Ao se pular uma fase do desenvolvimento da criança, corre-se o risco de atrapalhar alguns pontos importantes como o desenvolvimento psicomotor que mais tarde vem a refletir nos movimentos da escrita, por exemplo”, destaca.
Crianças que se desenvolvem precocemente tendem a ter uma adultização desnecessária (Créditos: Liliane Jochelavicius / Jeniffer Oliveira)
Dentre essas fases, uma das que mais assusta os pais é quando a criança começa a se descobrir sexualmente, o que pode começar a acontecer por volta dos nove ou 12 anos. Durante essa fase, Jucimara aconselha aos pais que “esclareçam as dúvidas, respeitando cada fase da criança e do adolescente, falando a verdade sem malicia, de maneira natural, o que ajuda na orientação dos filhos".
A criança vai se descobrindo de acordo com as fases passadas pela vida. De zero a um ano ela encontra-se na fase oral, onde o prazer é maior na boca, associado a ligação da amamentação. De dois a quatro anos, a criança descobre a região anal, percebe que pode adquirir controle dos esfíncteres e passa a fazer ligação prazerosa com essa área. De quatro a seis anos, a criança se volta para região genital, explorando seus órgãos e, dessa maneira, uma nova visão do corpo. Por último, dos seis a 11 anos, onde começa a desenvolver uma libido potencialmente aceita pela sociedade. Essas descobertas estão sempre relacionadas ao prazer, não ao sexo.
Jucimara também ressalva a importância de os pais não erotizarem os próprios filhos, deixando-os livres para desenvolverem essa fase e também ter cuidado com certas atitudes tomadas com as crianças, protegendo-os de problemas maiores no futuro. É preciso “não beijá-las na boca, não trajá-las com roupas adultas muito curtas ou com adornos que a impedem de brincar, mexer com tinta, com massinha, na areia sem que fique preocupada em estragar o esmalte”, afirma.
A erotização infantil
Casos de erotização infantil na mídia são recorrentes. Em busca de sucesso e repercussão, adultos aceitam comportamentos considerados inadequados em jovens e adolescentes. Mc Melody é um desses exemplos. Com músicas de conteúdo erótico forte e roupas provocantes, a menina chama a atenção para essa problemática. O trabalho da cantora mirim gerou revolta e virou caso de investigação do Ministério Público de São Paulo, onde foi considerado que o trabalho da menor era uma “violação ao direito e ao respeito à dignidade de crianças e adolescentes".
Exposição de jovens preocupa devido ao alto nível de erotização. (Créditos: Reprodução YouTube/Mc Melody)
Não só as meninas são alvo desse tipo de prática no funk, mas o fato de serem mais vulneráveis acaba por ofuscar a erotização que ocorre também com os meninos. MC Brinquedo, MC Pedrinho e MC Pikachu são alguns cantores mirins que cantam músicas com conteúdo altamente sexual. Como as músicas acabam tendo uma grande veiculação, responsáveis pelos menores aceitam o conteúdo e a maneira de agir dos mesmos, defendendo o trabalho de seus filhos.
A aceitação pelos pais de práticas adultas em crianças e adolescentes pode gerar resultados negativos e traumatizantes para os jovens. Um despertar prematuro das práticas sexuais pode gerar, por exemplo, uma gravidez precoce e também o abandono escolar.
Não despejar frustrações nas crianças, fazendo-as agir de maneira nociva também é essencial. Cuidados desde a primeira infância são essenciais para uma criação saudável, cuidando do agir dos menores. “Esse problema é social e muitos dos pais não sabem lidar ou incentivam, achando essa prática “bonitinha". Muitas crianças reproduzem o que veem em casa; o que ela vê, ela faz!”, afirma Jucimara, em relação ao comportamento demonstrado pelas crianças na sociedade.