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  • Kevin Capobianco

Chuva ácida: divulgação incorreta pode gerar alarme

A população tende a pesquisar na internet publicações sobre a chuva ácida e, na maioria das vezes, as informações são apavorantes

Com o tempo a chuva ácida deixa um aspecto de sujeira em edifícios e metais começam a ficar enferrujados. (Crédito: Kevin Capobianco)

Um alerta de chuva ácida foi expedida pela Defesa Civil do Paraná para algumas regiões do Norte do Paraná no final de setembro de 2017. Isso ocorreu após mais de um mês de estiagem, que ajudou a concentrar grande quantidade de substâncias químicas no ar. Na região de Maringá, peixes foram encontrados sem vida em rio que recebeu água da chuva que carregava poluentes que estavam em suspensão no ar. O Instituto Ambiental do Paraná (IAP) coletou amostras e confirmou que, devido à grande quantidade de químicos e ao grande período de estiagem, a chuva carregou poluentes que foram suficientes para matar os peixes.

A Defesa Civil emitiu um texto falando sobre a possibilidade de chuva ácida e quais poderiam ser seus efeitos. Entretanto, houve um erro de comunicação e o conteúdo foi publicado como alerta - o que gerou preocupação nas pessoas que moravam em regiões próximas de Maringá, onde morreram peixes em água do rio que foi afetada pela chuva com os poluentes. Cassandra Coninck Costa Carstens, do Corpo de Bombeiros, explicou que a chuva se torna ácida devido ao acúmulo de poluentes somados à reação com a água, que diminui o ph da água e a torna ácida e corrosiva. Ouça a explicação sobre quando a chuva é considerada ácida.

Tamara Simone van Kaick, doutora em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Paraná, afirma que a poluição do ar já é considerada por alguns especialistas como uma das principais causas de morte em vários países. Alguns dos agravamentos são asma, rinite e alergias, que podem levar o paciente inclusive à morte. No entanto, o histórico do monitoramento do ar efetuado pelos Órgãos Estaduais de Meio Ambiente indica que, independente dos parâmetros analisados, o monitoramento da qualidade do ar não é uma atividade rotineira em grande parte dos estados.

A chuva ácida resulta da interação dos componentes naturais da atmosfera terrestre com poluentes primários. Para saber se há risco de novas ocorrências de chuva ácida, ou se foi um caso pontual, é necessária uma avaliação das atividades antropogênicas da região. As principais fontes humanas de poluentes primários são as indústrias, as termoelétricas e os veículos automotores.

A chuva ácida pode se formar após grande período sem chuva ou em áreas com grande emissão de poluentes, como, por exemplo, as refinarias de combustíveis ou locais onde ocorrem queimadas, que acontecem devido ao tempo seco ou por exploração criminosa. O IAP possui alguns sensores que monitoram em tempo real a qualidade do ar em algumas regiões como Paranaguá, Curitiba e Região Metropolitana, Ponta Grossa, Londrina, Maringá, Cascavel e Foz do Iguaçu. Os dados em tempo real estão disponíveis em um mapa interativo na página do IAP.

Para este tipo de chuva não é possível prever se a água, resultado da precipitação carregada com os resíduos químicos e metais pesados, será ácida ou não. Somente depois da coleta de material, que é levada para laboratório, é possível fazer os testes para verificar o grau de acidez da chuva. Quando a população faz pesquisas sobre chuva ácida, as informações encontradas costumam ser alarmantes e, muitas vezes, errôneas como explica Cassandra Coninck, da Defesa Civil do Paraná. Ouça aqui.

Uma forma de se preparar para a ocorrência de chuva ácida é acessar os boletim de poluição que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais divulga para as grandes cidades e interior do país. O Brasil ainda não é um grande acumulador de poluentes no ar, como a Europa ou a China, onde a chuva pode ter um poder corrosivo maior que aqui, explica Cassandra.

Medição da qualidade do ar

A qualidade do ar é medida pelo resultado de vários fatores, dentre os quais se destacam a quantidade de gases e de poluentes na atmosfera. As condições meteorológicas da região e relevo podem interferir na dispersão ou não desses poluentes no ar e determinar alta ou baixa concentração no ar.

Em entrevista à EntreVerbos, o Ministério do Meio Ambiente diz que o monitoramento atmosférico é uma ferramenta indispensável para avaliar a qualidade do ar, pois permite identificar ameaças aos ecossistemas naturais. O acompanhamento contribui para o desenvolvimento de políticas e ações de gestão, e também para identificar tendências e problemas futuros que podem ser evitados, além de compor um banco de dados para planejar tráfego e uso do solo.

No Brasil, a Gestão de Qualidade do Ar surgiu a partir da Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA) e das Resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) numero 5, de 1989, e número 3, de 1990, que constituem o Programa Nacional de Controle da Qualidade do Ar (Pronar). O Programa de controle de poluição do ar por veículos automotores (PROCONVE), coordenado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), surgiu por meio de uma resolução do Conama que constatou um aumento da frota de veículos e transporte de cargas nas grandes cidades e tem como objetivo reduzir as emissões de dióxido de carbono, dióxido de enxofre e gás carbônico que são resultado da queima de combustíveis fósseis.

Nos termos da PNMA, editada pela Lei 6938/1981, o monitoramento da qualidade do ar é colocado como instrumento de acompanhamento da qualidade ambiental, de avaliação do impacto da poluição atmosférica e ação indispensável à obrigatória prestação, pelo Poder Público, de informação relativa ao meio ambiente. O Decreto 99274/1990, que regulamenta a PNMA, acrescenta a importância do monitoramento em áreas críticas de poluição e também como ferramenta de identificação e informação a respeito da existência de áreas degradadas ou ameaçadas de degradação.

Além disso, a Resolução do Conama 5/1989 lista o monitoramento como uma das medidas do Pronar, com o objetivo específico de contribuir para a avaliação das ações de controle do Programa. Para tanto, prevê a criação de uma Rede Básica de Monitoramento estabelecida como meta de médio prazo. A Resolução 3/1990 atribui aos Estados a incumbência de implantação do Sistema.

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