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  • Por Letícia Carstenzen

Curitiba: como está o centro histórico depois da revitalização?

O Centro Histórico de Curitiba é um dos pontos mais visitados da capital

Alguns pontos revitalizados do Centro Histórico de Curitiba. (Crédito: Letícia Carstenzen)

O Centro Histórico de Curitiba é um espaço democrático, onde podemos encontrar diferentes atrações, como museus, espaços culturais e galerias, uma enorme oferta de espaços gastronômicos, como bares, tradicionais restaurantes e feirinhas, além de antigas construções, como igrejas e casarões. A fim de atrair um maior público para a região e de uma melhora na estética desses espaços, a Prefeitura de Curitiba, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e a Federação do Comércio do Estado do Paraná (Fecomércio) desenvolveram em conjunto um projeto de revitalização deste espaço em 2008. Mas, e hoje? Como está o centro de Curitiba?

O projeto de revitalização do Centro Histórico tinha como objetivo atrair mais pessoas para a região, já que isso foi perdido com a infraestrutura que foi ficando deteriorada com o passar dos anos, gerando insegurança no espaço. Entre as mudanças descritas no projeto inicial estava a melhoria da iluminação, do calçamento e da segurança, com mais policiamento e instalação de câmeras, além da criação de melhores condições na estrutura estética dos comércios locais e prédios culturais da região. Tudo isso ajudaria a chamar atenção de turistas e de um público que não mais frequentava o centro da cidade.

A revitalização teve início nos entornos do Paço da Liberdade (Antiga Sede da Prefeitura de Curitiba), que engloba outros pontos da cidade que também passaram pela revitalização, como a Rua Riachuelo, uma das principais ruas do projeto, a Rua São Francisco, considerada uma das mais antigas de Curitiba, e a Praça Tiradentes. Esses locais podem ser enquadrados em quarto eixos: turístico-histórico, conceito, gastronômico e serviços.

Mapa da revitalização separado pelos eixos. (Crédito: Sebrae/PR 2009)

Desde a apresentação do projeto para os comerciantes até os dias de hoje, muitas coisas já foram feitas no Centro Histórico de Curitiba, principalmente na parte estrutural. A reforma despertou mais interesse de jovens em moradias na região central, próximos os locais de revitalização. Isso colaborou também para que novas construções de prédios fossem iniciadas no centro da capital.

Entre os aspectos apontados para o aumento dessa procura está um fácil acesso às universidades da região, mais opções de transporte público, de comércio local e também de uma maior variedade de bares e baladas, que podem ser encontrados hoje nos locais de revitalização. Para Aparecida de Fátima Nogarolli, consultora credenciada do Sebrae/PR para o projeto de revitalização do entrono do Paço da Liberdade, a parte estrutural do projeto foi concluída, porém outros aspectos precisariam sofrer mudanças para que as pessoas e turistas tenham mais oportunidade de visitar o Centro Histórico, o que seria um dos objetivos do projeto.

“Teve sim um esforço muito grande de revitalizar aquela estrutura e um sentido de criar naquele entorno um outro tipo de convívio, que, na prática, a realidade social do entorno não permitiu que ocoresse, e não permite até hoje”, destaca Aparecida de Fátima. Quem passa diariamente pelo Centro Histórico se depara com as questões sociais presentes no local, principalmente à noite. Isso impede, de alguma forma, uma maior diversidade de atrações nos centros culturais revitalizados pelo projeto, prejudicando a realização de cursos, palestras, exposições e uma enorme variedade de projetos culturais, que já precisaram ser cancelados pela falta de segurança da região.

Aparecida de Fátima comenta que as questões sociais deveriam fazer parte de uma nova revitalização, já que a parte estrutural foi concluída. “Essa dualidade é o grande desafio da revitalização. Então, se hoje você me pergunta como que eu começaria se me chamarem pra conversar sobre a revitalização, hoje eu vou começar com a raiz, que são as questões sociais do lugar", ressalta.

A consultora chama atenção para outra questão, que é decorrente da revitalização: o maior encontro de jovens nos bares que se encontram em destaque na Rua São Francisco. “Hoje ainda você tem que cuidar de um jovem que está desempregado, que não se perdeu e que não pode se perder. Essa é minha preocupação atual. Então, se eu for consultada por alguém, hoje eu estou preocupada em como olhar pra esse contexto".

A voz de comerciantes e frequentadores

Fernando Rosenbaum é o proprietário da Bicicletaria Cultural, localizada bem em frente à Praça do Bolso, mais um local revitalizado pelo projeto. Ele acompanhou a revitalização feita na Rua São Francisco e é um dos principais responsáveis e incentivadores da reforma na Praça do Bolso, a conhecida Praça do Ciclista.

“Dois anos depois da reforma da Rua São Francisco, a gente via essa esquina da frente sempre fechada; fomos pesquisar e descobrimos que era um espaço da Prefeitura e reivindicamos para ser um espaço de atividades", relata Rosenbaum.

O proprietário da Bicicletaria conta que, após a liberação da Prefeitura, reunira-se com o arquiteto Mauro Magnabosco e, depois de várias ideias para a reforma, chegaram até a Praça do Ciclista. Porém, a reforma demoraria dois anos para ficar pronta - o que fez com que os ciclistas da região se unissem em forma de mutirão para antecipar a reforma.

“Um amigo ciclista simplificou o projeto de uma maneira que a gente pudesse construir e a gente começou a construir; as pessoas foram colocando as pedrinhas no chão; a gente resolveu manter aquele muro antigo, as pedras grandes foram levantadas e, por um momento, a praça virou a menina dos olhos da cidade”, conta Rosenbaum.

Esse tipo de movimento é chamado de placemaki, quando a própria comunidade cria um espaço para ela mesma. Essa ação já é praticada por governos de outros países, como o Canadá. O objetivo do placemaki é promover a participação da comunidade na criação e reforma dos locais, mas também pensar como estes espaços serão usados e como a população irá cuidar dos mesmos.

As atividades culturais também já foram mais presentes na Rua São Francisco e na Praça do Bolso, principalmente no início da reforma, mas isso foi perdido com o tempo em razão da degradação dos espaços. Rosenbaum comenta que, talvez, a promoção de atividades pudessem abrir novas oportunidades: “Realmente acho que atividades culturais poderiam dar uma outra cara para rua. A rua tem tudo pra dar certo, é um espaço libertário da cidade, criativo, é histórico".

As pessoas que passam pelas redondezas da Rua São Francisco nos finais de semana encontram uma variedade de bares e uma diversidade enorme de culturas diferentes. Isso já era visto antes da revitalização, mas aumentou muito depois dela. Porém, a falta de segurança e outras questões sociais não permitem hoje uma circulação maior na região.

Victor Hugo é frequentador da rua, mas confessa que a falta de segurança muitas vezes atrapalha. “Eu frequento as ruas, principalmente nos finais de semana, mas ficamos lá como um esquenta mesmo, até porque conhecemos alguns comerciantes da região; quando começa a escurecer, procuramos outros lugares; a falta de segurança é fato, além do comércio de drogas, que é comum na região", declara.

Quem acompanhou a revitalização do Centro Histórico de Curitiba desde o começo admite que houve uma melhora visível na estética e estrutura das ruas, dos comércios e prédios, tornando-se um atrativo para o turismo e valorizando a procura por imóveis da região, mas muitos concordam que ainda é preciso pensar nas questões de segurança e cultura. Os locais revitalizados são patrimônios da comunidade e todos podem e devem prestigiar e cuidar desses espaços.

Para quem quer conhecer um pouco mais sobre a Praça do Bolso e a Rua São Francisco, uma dica é assistir o filme “Praça de bolso do ciclista”, dirigido por Rafael Bertelli, e o documentário “São Francisco”, dirigido por João Marcelo.

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