Grupos ganham oportunidade de participar do Fringe e se apresentar nas ruas, feiras e teatros da cidade
Artistas do Grupo Lacarta apresentam-se no Largo da Ordem. (Crédito: Gabriel Mafra)
Criado em 1992, o Festival de Curitiba é um evento consolidado no calendário brasileiro. Ao todo, já foram mais de cinco mil espetáculos apresentados ao longo de 27 anos. Muitos nomes importantes no cenário artístico passam pelo Festival todos os anos. Reinaldo Gianecchinni e Ricardo Tozi participam da edição 2018, por exemplo.
Mas o Festival vai além das estrelas e dos grandes teatros lotados. Todos os anos centenas de companhias e artistas têm a oportunidade de mostrarem seus trabalhos por meio do Fringe - evento que apoia artistas que procuram espaço para expor seus trabalhos.
O primeiro Fringe do Festival de Curitiba aconteceu em 1998. Desde o início, a proposta do Fringe é apoiar companhias sem curadoria ou grandes patrocínios e que vem a Curitiba em busca de público e crítica. Ao longos desses anos, o evento se tornou uma vitrine do teatro brasileiro. Muitos “olheiros” assistem as peças e convidam as companhias para outros trabalhos. A edição 2018 do Fringe, contou com 372 espetáculos. Além de 20 mostras especiais, foram 96 eventos gratuitos e 46 do tipo pague quanto vale.
O Grupo Lacarta – Circo e Teatro, de Vitória-ES, foi uma das companhias que vieram apresentar seus trabalhos na capital paranaense. O espetáculo Dose Dupla conta a história de dois palhaços que fogem do circo e chegam na praça para apresentar o que tem de melhor. Os palhaços Amora e Cachoeira se desafiam e falam sobre temas de desigualdade com as mulheres.
A artista Amora Gasparini criou sua personagem palhaça em 2016, durante o Festival. De volta, dois anos depois, ela destaca a importância da oportunidade que o Fringe oferece. “É interessantíssimo o apoio para os grupos estarem vindo para cá. Eu sou de Vitória, por exemplo, e lá, é muito difícil de nos mantermos com a cultura do teatro de rua. Nosso espetáculo foi montado lá, mas aqui, a gente experimenta um público diferente. A proposta de todo artista é rodar com o espetáculo para conhecer os lugares, os artistas. E essa oportunidade [Fringe] abraça todos essas causas. A gente gosta muito de estar aqui” explica.
Confira a seguir um trecho da peça "Dose Dupla", do Grupo Lacarta:
Grupo Lacarta apresenta-se há cinco anos de forma independente. (Crédito: Gabriel Mafra)
Chapéu de dinheiro
Uma tradição dos teatros de rua é a passagem do chapéu para arrecadar dinheiro do público, cada um contribui com o valor que pode. Hoje, existem patrocínios através de leis de incentivo a cultura, mas esses não chegam a todos os artistas. Em muitos casos, o dinheiro arrecadado com o chapéu é a forma de manter a subsistência do artista.
A professora de teatro, Andreia Frag, lembra que essa tradição também é uma maneira de valorizar o artista. "Além de histórico, a passagem do chapéu para arrecadar dinheiro é uma forma da população valorizar o trabalho que está sendo feito. Não é cobrado ingresso para assistir, mas nem por isso todos os artistas que estão ali não tiveram exatamente o mesmo tipo de trabalho de companhias que se apresentam em grandes tetros tiveram. Todo o processo de preparação que pode levar de 2 meses em pequenas produções até um ano em grandes peças", explica.
No caso do Dose Dupla, todo o material da peça foi adquirido com dinheiro arrecadado dessa forma. “Tudo o que fazemos é com o chapéu. Tem lugares que não deixam, mas é uma tradição. Temos o apoio do hotel, que nos dá almoço também, mas tudo o que fazemos é com o chapéu” explica Amora.
Amora passa o chapéu para arrecadar dinheiro. Toda a peça foi financiada dessa forma. (Crédito: Gabriel Mafra)
Origens do Fringe
A expressão Fringe significa Franja em Inglês, e surgiu em em 1947 na cidade de Edimburgo na Escócia, quando companhias que não conseguiriam estar na programação do festival de teatro da cidade se juntaram e criaram uma programação a margem do oficial. Desde então, diversos Fringes começaram no mundo e, desde 1998, o Festival de Curitiba promove o evento como um espaço democrático para que qualquer companhia profissional nacional ou internacional possa se apresentar. A única regra é que 80% dos integrantes devem ter o registro profissional da profissão (DRT).