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  • Por Arthur josé

Palcos têm protagonismo branco

Ausência de negros pode ser percebida na promoção, fazer cultural e outras etapas artísticas

Festivais de teatro são espaços de poder que não são protagonizados por negros. (Crédito: Shutterstock)

Na esfera artística do teatro e da televisão, assim como na sociedade, há uma discrepância na representatividade de pretos, pardos e brancos - o que expressa o protagonismo desigual do povo negro na mídia. Especialmente na televisão, na qual o alcance de visibilidade é maior, é possível notar a ausência de negros em novelas, minisséries, filmes e afins, e isso também vale para o teatro.

De acordo com Felipe Soares, 30, ator há oito anos, festivais de teatro e afins são espaços de poder que não são preenchidos por negros. Isso se dá devido há uma seleção, geralmente, realizada por pessoas brancas. “Existe uma curadoria por trás do mercado artístico, em maioria, essa curadoria é branca e não têm um olhar mais primoroso para as artes negras, de estética e de poética", afirma o ator. O artista mineiro faz parte da Companhia Negra de Teatro (Belo Horizonte – MG) e já se apresentou em Curitiba em algumas vezes. Sua última vinda à cidade foi durante o 27º Festival de Teatro, que ocorreu entre o mês de março e abril deste ano, com a Companhia Brasileira de Teatro, para apresentação do espetáculo “PRETO”.

Felipe relata que não teve contato com muitos negros durante sua vinda à Curitiba, e acredita que isso tenha acontecido em função da cultura ser ofertada de forma seletiva, em regiões centrais, onde se concentra a população de classe média e classe média alta, em sua maioria, branca. Ouça Felipe Soares falando da experiência durante sua visita a Curitiba.

Ocupar os espaços vai além o empoderamento do povo negro. para o ator. Tem a ver com analisar de fato quem detêm o poder dentro dessas esferas, o que já parte para questões relacionadas aos privilégios da população branca. “Espaço há para todo mundo, a questão é quem quer abrir mão para dividir, porque por mais que os pretos se empoderem, os brancos tem que abrir mão para dividir”, frisa Soares.

O espetáculo PRETO, do qual Felipe Soares fez parte, foi realizado pela Companhia Brasileira de Teatro, com direção de Marcio Abreu, e trouxe o debate de uma mulher negra, com uma linguagem performática de modo geral e é também, um conjunto de tentativas de diálogo sobre o racismo, sobre a negritude. A montagem traz, também as atrizes Cassia Damasceno e Grace Passo.

Espetáculo PRETO traz os atores Felipe Soares, Cassia Damasceno e Grace Passo. (Crédito: Nana Moraes)

Representatividade na mídia a na dança

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), realizada no ano de 2017, e divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, aponta que a população brasileira está dividida em 8,2% pretos 46,7% pardos e 44,2% brancos. Em um país colonizado por europeus, a parcela de população negra (preta e parda) ainda segue sendo a maioria desprivilegiada economicamente.

Tal discrepância pode ser percebida em instituições educacionais privadas e públicas (escolas e universidades), cargos, veículos de comunicação, ambientes artísticos, só para citar alguns. A estilista, modelo, idealizadora da marca Chrispreta, e apresentadora do quadro Cenário da Beleza do programa Estúdio C da RPC, Christiane Oliveira, relata que, enquanto mulher negra, é minoria em eventos de moda e beleza. “Se eu for a um evento aqui em Curitiba, de cem pessoas, chega no máximo a ter umas vinte negras ”, afirma a apresentadora.

Como integrante do quadro Cenário da Beleza, a apresentadora busca criar cada vez mais representatividade, abordando questões voltadas à estética negra, pela maquiagem, cabelo e tendências nas passarelas. Para Chris Preta, alcançar espaço no mundo da moda e nas mídias também é uma forma de atuar como militante. "Trago sempre questões pertinentes à valorização da estética negra. Encontrar protagonismo negro, nos faz sentirmos representados, por mais que se caminhe a passos lentos", frisa a apresentadora. O programa vai ao ar aos sábados, às 14h30, na RPC .

No caso da dança, a ausência da presença de negros se dá por uma questão econômica e, novamente, pela centralização da cultura. A maioria dos alunos nas companhias de dança é branca e de classe média. Tendo iniciado sua carreira como dançarina de ballet e modelo aos nove anos de idade, a carioca Mayara Braga, hoje com 26 anos, confirma que os espaços são pouco ocupados por negros. "Na companhia que faço parte, somos em torno de quinze alunos. Desses, só tem eu e mais três outros dançarinos negros, ou seja, a porcentagem de negros é mínima", relata.

Além do ballet, a dançarina também faz parte de uma turma de jazz , desde os 13 anos e ressalta que: “Como dançarina há dezessete anos, eu pude notar muitas coisas relacionadas à discussão racial. A dança no Brasil é composta pela elite, que, no caso, é branca". Ouça Mayara ressaltando o fato da ausência de negros (as) estar ligada às questões socioeconômicas.

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