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  • Por Camila Toledo, Icaro Couto e Marcio Padilha

Pesquisa aborda inovações práticas no jornalismo móvel

Campo da Comunicação avançou, mas ainda enfrenta desafios de metodologia e legitimação social

Márcio Marcelino se dedica a estudar jornalismo móvel desde que início da graduação. (Crédito: Camila Toledo)

Segundo o último relatório Digital in 2018, divulgado pelas companhias de serviços online Hootsuite e We Are Social, mais da metade da população mundial já conta com acesso à internet. São mais de 4 bilhões de pessoas conectadas, ou seja, 53% das pessoas no mundo todo. Ainda de acordo com o relatório, as redes sociais são utilizadas por cerca de 3,2 bilhões de pessoas (42% da população mundial).

Compreendendo a importância das redes sociais no cotidiano, o mestre em Comunicação e Linguagens, Márcio Morrison Kaviski Marcelino escolheu abordar a prática jornalística nos dispositivos móveis em sua pesquisa de mestrado. O interesse surgiu ainda na graduação e hoje o pesquisador reúne em seus interesses de pesquisa o jornalismo digital, o jornalismo móvel e as inovações práticas no jornalismo.

Em sua dissertação denominada “Jornalismo para Dispositivos Móveis: uma análise dos stories da CNN no Instagram e no Snapchat”, o mestre em Comunicação e Linguagens observou e estudou durante cinco dias os stories da CNN no Instagram e na seção Discover. “Escolhi a CNN porque é um veículo que eu já tinha maior proximidade por causa da iniciação científica. Eu já tinha feito pesquisas anteriores que me ajudaram bastante no mestrado. Além disso, com a CNN eu obtinha um denominador comum para fazer uma análise comparativa, que era a proposta”, explica Marcelino. A média diária é de 400 milhões de stories no Instagram e 100 milhões no Snapchat.

O pesquisador analisou as características do webjornalismo e como elas se manifestam no jornalismo móvel, mais especificamente nas narrativas em stories no Instagram e no Snapchat. Desse modo, o objetivo da pesquisa foi o de identificar os principais aspectos do jornalismo móvel nos conteúdos jornalísticos produzidos para os aplicativos Snapchat, na seção Discover, e Instagram. Outro objetivo foi compreender a construção de reportagens exclusivas para estes dispositivos móveis e, também, identificar como se dá a construção de linguagens imagéticas e textuais nessas reportagens. A pesquisa identificou e analisou sete características do webjornalismo. São elas: multimidialidade, instantaneidade, interatividade, memória, hiperlink, transmídia e colaboração.

Márcio Marcelino explicando sobre as 5 características do webjornalismo analisadas em sua pesquisa. (Crédito: Camila Toledo e Icaro Couto)

A sétima característica observada por Marcelino foi a colaboração, presente no Snapchat, que consiste em matérias produzidas e enviadas pelos leitores. “Por exemplo, os internautas produziam fotos e enviavam para a CNN, que utilizava como forma de contextualizar o assunto que estava sendo narrado”, explica o pesquisador.

A produção de um trabalho científico exige muito estudo e tempo. Em 2018, o relatório Science & Engineering Indicators 2018, realizado pela National Science Foundation (NSF), apontou o Brasil em 12º lugar dentre os países com maior números de trabalhos científicos publicados: foram 53 mil artigos em 2016. Em primeiro lugar está a China, com 426 mil publicações. As dificuldades encontradas na realização da pesquisa científica no Brasil pode ser um dos motivos para os dados apontados pelo relatório.

Marcelino destaca que durante o mestrado se deparou com alguns obstáculos. Um deles foi para colocar as metodologias em prática. “É muito complicado para um pesquisador aqui do Brasil conseguir entrevistas lá fora. Isso faz parte da pesquisa científica e agregaria muito ao meu trabalho. Eu tentei todo tipo de comunicação com a CNN, mas não foi possível”, aponta Marcelino.

Para driblar estas dificuldades, o pesquisador conseguiu encontrar entrevistas que profissionais e executivos da CNN realizaram com outros veículos. Essas entrevistas foram importantes para o seu trabalho. "A entrevista que a diretora executiva da CNN Internacional deu à BBC foi muito importante para minha pesquisa, pois encaixou perfeitamente com os resultados que obtive", explica.

Apesar das dificuldades do campo científico, o mestre em Comunicação e Linguagens pretende continuar na academia pesquisa. “Eu só preciso de um tempo para entender melhor a minha pesquisa e, assim, analisar e decidir qual é o melhor rumo a se tomar”, conclui.

Comunicação como campo de pesquisa

A pesquisa científica é uma atividade desenvolvida por cientistas e que traz para a sociedade novos conhecimentos para todas as áreas. A professora, pesquisadora e doutora em Ciência da Comunicação, Karine Moura Vieira, destaca que um grande obstáculo do campo da Comunicação como campo científico é a conscientização do público em geral de que em comunicação se faz pesquisa. “É um grande desafio fazer o público brasileiro, que entende ciência como matemática, física, química e biologia, entender que comunicação também é ciência e produção de conhecimento científico”, comenta a pesquisadora.

Quebrar o paradigma de que somente as ciência exatas produzem conhecimento científico não é algo fácil nem rápido. Karine Moura Vieira conta que os pesquisadores da comunicação precisam sempre justificar o porquê de estudar e pesquisar sobre a área. “Acredito que todo o pesquisador em comunicação já deve ter ouvido a pergunta: Qual é a utilidade da tua pesquisa? ou Por que é importante pesquisar sobre TV?”, afirma. Outro ponto destacado pela pesquisadora é a maior ou menor aceitação de uma temática na sociedade, quando inserida num contexto específico. Por exemplo, pesquisas que escolhem a diversidade como temática são mais difíceis de serem aceitos e considerados importantes.

Segundo a doutora a não aceitação da temática já justifica a sua importância. Ela ainda lembra da importância das pesquisas de comunicação, especificamente do jornalismo, em nossa sociedade. “É importante pesquisar sobre as novas maneiras de produção jornalística. São produções que estão acontecendo e se modificando, enquanto estamos em contato com elas”, explica Karine Vieira Moura.

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