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  • Nicole Bek

Cresce participação das mulheres na ciência no Brasil

As mulheres são a maioria no Brasil. Dados do IBGE apontam que elas respondem por 52% da população. Na educação superior, a proporção se repete. As mulheres ocupam 55% das vagas nos cursos, e são as que registram a maior participação entre os formandos, pouco mais de 60%. Esses dados começam agora a se refletir também nos cursos de mestrado e doutorado, o que pressiona por uma maior participação feminina no campo científico no Brasil.

Os avanços no mercado da ciência, contudo, não é generalizado, e encontra resistências em algumas áreas historicamente ocupadas por homens, como as engenharias e a matemática. Segundo o relatório A jornada do pesquisador pela lente de gênero, da editora Elsevier, o país registra uma pesquisadora para cada quatro pesquisadores. A pesquisa analisou também autores de 15 países. No Brasil foi concluído que existe 0,8 mulher por homem no âmbito de artigo cientifico. Quanto à titulação de doutorado por área, a pesquisa destaca engenharias e ciências exatas como as com menores participação das mulheres. Na somatória das áreas, contudo, as mulheres respondem por 54% dos títulos de doutorado.

Segundo a bióloga e especialista em educação, meio ambiente e sustentabilidade, Nicole Witt, a medida em que ocorre o avanço de nível para obter uma profissão, torna-se mais perceptível a diferença, os homens conseguem emprego e as mulheres não. "Na docência das graduações das universidades federais, onde hoje se faz ciência no Brasil, as mulheres ocupam 25% das cadeiras. Elas ingressam em um número maior do que os homens, compete com eles até um grau de estudo, mas quando chega no momento das contratações, eles que são aceitos nos melhores cargos", critica.

Bióloga Nicole Witt trabalhando com peixes para pesquisa e comércio de água doce em Paulo Lopes (SC)

Para a bióloga, esses casos ficam mais evidentes quando são observados os cargos de gerência ou de liderança. “No Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por exemplo, são eles a maioria. Nas cerca de sete décadas de fundação, nunca teve uma mulher presidenta. Isso pode ser um indicativo do porque os homens prevalecem”, destaca.

Nicole acredita que para ter uma igualdade que se reflita no campo profissional é preciso que seja estrutural e que parta não do gênero, mas sim das competências. “Nós queremos ter os mesmos acessos que os homens e receber o mesmo prestigio que eles. Não é desejar ser mais, mas é estar no mesmo nível”. A bióloga reforça a crítica destacando que é fundamental a participação das mulheres nos espaços de poderes no campo da ciência para estabelecer um cenário de disputa e equidade.

Uma posição que a doutora em mecânica, Francielly de Castro Silva, também defende. Segundo ela, é fundamental reconhecer o papel de cada um no desenvolvimento de um bom trabalho, e que isso depende do conhecimento de da competência. “O ideal é ter um equilíbrio, ambos têm que ter sua participação para ter uma qualidade. ”

Francielly se formou em uma área tradicionalmente masculina e conta que na faculdade era apenas ela e mais duas colegas mulheres, que não chegaram a concluir o curso. Ela acredita que um dos motivos por ter tão poucas mulheres na ciência é a falta de incentivo. “É difícil os pais que não estejam inseridos na ciência motivarem os filhos a ingressarem neste ramo”.

Francielly E. de Castro Silva, doutora em mecânica.

A doutora conta sobre os desafios que a mulher tem que enfrentar para assumir um lugar de respeito na profissão. Para ela as mulheres de forma geral tende a se esforçar mais ao estudo, há uma necessidade de sempre estar provando sua capacidade, mas é algo explícito. “Por ser um ambiente mais masculinizado tem que ser buscado a aprovação dos homens. No ambiente de trabalho a mulher é subjugada e algumas tarefas não são entregues a elas. É pela falta de confiança que elas não têm assumido o topo, confiança dos gestores”.

Nomes femininos de destaque na ciência

A história tem um olhar que, não raras vezes, privilegia o poder dos dominadores, tanto pela lógica dos conquistadores quanto pela lógica heteronormativa. A partir dela, os homens são conhecidos por realizar as tarefas pesadas e de raciocínio e a mulher por ficar em casa e cuidar do lar. Um fato que vem se modificando aos poucos por causa do trabalho de grandes nomes femininos na ciência.

Voltando para o passado, identificamos algumas mulheres que fizeram a diferença na ciência. Mary Winston uma matemática, fazia parte de um pequeno grupo que trabalhavam como engenheiros aeronáuticos, na Era Espacial. Mary se destacou e se tornou a primeira engenheira aeroespacial do National Advisory Committee for Aeronautics, atual NASA.

A biofísica Rosalind Franklin ficou conhecida por ter descoberto formato helicoidal do DNA e ganhar o título de “mãe do DNA”. Em 1950 ela foi injustiçada, pois o seu chefe, o biólogo molecular Maurice Wilkins não aceitava Rosalind como autora da descoberta.

Em 2016 a cientista Celina Turchi que entrou para a lista dos dez cientistas mais influentes do mundo em 2016, segundo a revista Nature, depois de ter descoberto a relação da microcefalia com o vírus zika.

Um dos casos mais recentes é em 2020, que em apenas 48h uma equipe brasileira e majoritariamente composta por mulheres cientistas sequenciaram o genoma de dois casos de coronavírus no Brasil, um feito rápido dos cientistas, coordenado pela doutora Ester Sabino do Instituto de Medicina Tropical.

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