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Por: Luis Gustavo e Eduardo Skrenski

Nudez como forma de quebrar paradigmas

Na arte, os corpos nus são utilizados fora do cunho sexual e dos julgamentos morais

Praça 19 de Dezembro, em Curitiba, também é conhecida como praça do Homem Nu. (Crédito: Eduardo Skrenski)

Desde a antiguidade, a nudez esteve presente nas principais realizações e atividades humanas, como, por exemplo, na Bíblia, no livro do Gênesis, sobre o que se conta de Adão e Eva. Eles viviam nus no paraíso até tomarem contato com o pecado e começarem a entender aquilo como algo vergonhoso, a partir do que optaram por cobrir os seus corpos e ensinar os descendentes na mesma maneira.

No contexto histórico mais recente, após a ascensão do Cristianismo, promovido principalmente pela Igreja Católica, barreiras morais começaram a ser colocadas na prática e na representação da nudez. Assim, a arte passou a sofrer preconceitos, seja em expressões públicas ou privadas.

Alana Michelski, professora de História da Arte no Uninter, analisa que o nu não ficou circunscrito à arte, mas também ajudou no desenvolvimento da sociedade e da ciência, pois muitos estudos e experiências estavam ligados diretamente à nudez, como na área da anatomia. Alana explica tal relação a partir da tela A lição de Anatomia do Dr. Tulp. Ela também lembra que a nudez está muito presente na Capela Sistina do Vaticano, pintada por Michelangelo, a qual causou polêmica na época.

A utilização da nudez em apresentações artísticas vem com o intuito de mexer com os paradigmas da sociedade e dizer que o corpo não tem unicamente o lado sexual, mas também o belo, o harmonioso, os traços, as formas - entendendo-o como uma verdadeira obra de arte. Ela ainda pode ser utilizada dentro da Arquitetura e Urbanismo, como no caso da Praça 19 de dezembro, conhecida como Praça do Homem Nu, que fica no centro de Curitiba, próximo ao Palácio do Iguaçu.

Silvia Monteiro, mestra em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e coordenadora do Curso de Artes da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), considera que, no mundo ocidental, somos ensinados a tratar quem está despido como algo ruim, feio e que não pode ser olhado. A nudez na arte vem para alterar isso, demostrando seu poder e sua beleza natural. A coordenadora faz uma crítica sobre como compreendemos esse corpo em nossa sociedade: “Ensinamos nossos filhos que seus corpos são algo para se envergonhar e algo para rir. Corpos não são grosseiros, eles não são apenas para fins sexuais, mas, sim, poderosos e surpreendentes. Se você pensar sobre o que um corpo é realmente capaz, isso vai explodir sua mente. Nós devemos celebrar isso, celebrar o corpo”.

Algumas obras de artistas renomados, a maioria produzida no Renascimento, envolviam o nu como parte fundamental da sua obra. Pintores como Michelangelo (no caso da Capela Sistina) e Francisco Goya (em A Maja), podem ser citados apenas para ilustrar.

Monteiro discute também o nu dentro do ensino de Artes: “Não há como nos esquivarmos da nudez nas obras de arte. Se você está ensinando sobre a arte na Grécia Antiga, ou em Roma, você deve incluir obras de arte ou figuras nuas para tratar bem do assunto”. Para ela, o nu pode se encaixar em todo e qualquer contexto em que tenha pessoas, mas que tenham objetivos unicamente artísticos ou fins acadêmicos para ser utilizado.

Ingrid Leandro, estudante de teatro, faz performances de nu artístico e se apresentou com a peça Desterro, no Festival de Curitiba. Ela defende que nem toda a nudez pode ser considerada como arte. A atriz diz compreender que mesmo em um estado tão avançado de tecnologia e inteligência, as pessoas ainda tem pensamentos retrógrados, como, por exemplo, querer determinar um padrão para o corpo. Para ela, "é por isso que a gente deveria ter um olhar para estas questões e é também por isso que deve existir a nudez dentro da arte".

Ela relata que no ambiente artístico nunca passou por preconceitos, mas fora, sim. Principalmente, dentro da família devido à abertura que permite ao seu corpo. Ingrid argumenta, ainda, que não sente constrangimentos em se apresentar nua, pois as pessoas estão lá para ver uma apresentação, e não para uma situação de cunho sexual.

A arte censurada

No ano passado, o país assistiu algumas exposições e apresentações artísticas, que utilizavam a nudez como forma de expressão, serem criticadas por diversos grupos da sociedade. Na performance La Bête, o ator Wagner Schwartz estava nu e teve a intenção de recriar uma das esculturas da reconhecida série Bichos, de Lygia Clark.

Nela, se faz a articulação das diferentes partes do seu corpo por meio de dobradiças, acionadas pela co-participação do público. Em uma das apresentações, uma criança tocou o tornozelo do ator, o que gerou grande repercussão negativa para o artista, com pedidos de prisão, represálias, ameaças e xingamentos em redes sociais.

Outro caso foi o de DNA de DAN, no qual Maicon K se apresentou numa bolha, feita de um gel que leva horas para secar. Quando seco, começa a se soltar e faz lembrar a troca de pele de uma cobra, que na performance é retirada também com a participação do público. Maicon chegou a ser preso pela Polícia Militar do Distrito Federal, durante sua apresentação na frente do Museu Nacional da República. Vale lembrar também o caso do Queermuseu, que não ficou o tempo previsto de exposição em Porto Alegre, após manifestações negativas nas redes sociais e boicote da população.

A curadoria do Festival de Teatro de Curitiba, de 2018, trouxe a mãe da criança que interagiu com Wagner Shwartz, o próprio Wagner, Maicon K e atriz e travesti, Renata Carvalho (que fez a peça O Evangelho segundo Jesus Cristo, a rainha do céu) para debaterem com o público sobre estas questões. A ideia foi pensar em formas de desmistificar a crítica da nudez dentro da arte.

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