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  • Por Mariana Campioni

Assédio a mulheres: até quando?

Assédio é algo sério e muitas mulheres vem sofrendo esse tipo de problema, porém muitos não sabem ao certo o que é e o quão incomodo isso pode ser.

Mariana Campioni, caminhando na Rua XV de Novembro de Curitiba – PR (Crédito: Marthin Borba)

Para produção desta reportagem, eu, Mariana Campioni, 25 anos, estudante de Jornalismo, caminhei por alguns pontos conhecidos da cidade de Curitiba, como o Largo da Ordem, a Rua XV de Novembro, ruas próximas ao Parque Barigui e na rua Vicente Machado.

Vestida como saio normalmente para passear em dias normais, estava de shorts, blusinha e tênis. Passei pelos locais já identificados, que têm bares, casas, praças, lojas e demais estabelecimentos comerciais com uma diversidade de classes sociais. Em todos eles, de alguma forma, fui assediada, seja com cantadas esdrúxulas, buzinas, olhares e até mesmo sendo barrada em algumas calçadas, com o intuito de evitar minha passagem.

Neste breve “passeio”, senti-me constrangida e coagida, ouvi coisas do tipo “gostosa”, “quer sentar no meu colo”, “você suada está uma delícia”, entre tantas outras formas de intimidação, como buzinas, assobios e “psiu psiu”. Mas, em uma dessas situações, fui impedida de caminhar pela calçada e, ao reagir, na tentativa de passar, questionei o rapaz sobre sua atitude, se ele achava correto como estava agindo e se sabia que isso era crime, pois estava me assediando. A resposta do rapaz foi esta: “se não quer ser assediada não saia de casa”.

Na sequência, ele gritou alto para que todos ouvissem: “sua feminista de ***”, algo que pudesse, aos seus olhos, denegrir a minha imagem. De repente outro garoto, amigo do assediador, juntou-se a ele. Sorrindo, disse: "deixa a bundudinha passar". Para evitar um constrangimento ainda maior, continuei minha caminhada.

O que poucas mulheres sabem é que existe uma lei que nos assegura desta prática criminosa, a LEI Nº 10.778, de 24 de novembro de 2003. Assédio não é apenas tocar, penetrar ou agredir uma pessoa. Entende-se que violência contra a mulher inclui violência física, sexual e psicológica.

Combate ao assédio a mulheres

O feminismo é um movimento que defende os direitos das mulheres e vem ganhando cada vez mais espaço na sociedade. Junto a ele, campanhas que modificam a forma como as pessoas ainda encaram alguns casos de assédio contra mulheres.

A iniciativa da Prefeitura Municipal de Curitiba “EU NÃO TOLERO ABUSO” busca denunciar os abusos contra as mulheres curitibanas, principalmente no transporte coletivo da cidade. Em Curitiba conta-se também com a patrulha Maria da Penha, que, segundo informações do site da Prefeitura, completa dois anos e prestou atendimento a mais de 6 mil casos, inclusive detendo alguns assediadores em flagrante.

Ao ser acionada, a Guarda Municipal (GM) encaminha uma viatura até o local, quando público. Jesus Santos, atendente de ocorrências de assédio, disse que “ao chegar ao local, se detectamos que o abuso foi, de fato, ocorrido, levamos o abusador até uma delegacia e damos continuidade ao que consta na legislação”, diz. Caso os abusos ocorram em locais privados, a recomendação é entrar em contato com a Polícia Militar, pelo número 190.

Créditos: Mariana Campioni

Três perfis diferentes em uma mesma situação

Em conversa com algumas meninas, de diferentes estilos, foram feitas três perguntas em relação ao assédio, a fim de entendermos a forma como elas se descrevem: • Você se considera vaidosa? Descreva seu estilo? • O que você considera como assédio? Você costuma ser assediada? • Que tipo de coisa passa pela sua cabeça quando você é assediada? As meninas escolheram fotografias que descrevessem seus estilos.

Thais Choma, 38 anos, mãe, cabeleireira, estudante e residente em Curitiba, se percebe como uma mulher vaidosa e antenada ao mundo fashion. Sobre sua visão do que é assedio, ela afirma: “Assédio é aquela cantada insistente, aquele fiu-fiu, o ser chamada por palavras chulas no caminho”. Além disso, ela conta que sempre é assediada nas ruas, pelo menos uma vez ao dia ela sofre cantadas.

Questionada sobre o que passa na sua cabeça quando sofre assédio, ela responde: “Porque será que os homens ainda na atualidade usam disso, sabe de cantar, usar termos pejorativos? Porque é humilhante ser chamada de gostosa, por exemplo”.

Thais Choma (Crédito: Arquivo pessoal)

Carolina Benitez, 20 anos, estudante, solteira e residente em Curitiba, é nossa outra entrevistada. Considera-se uma menina vaidosa, com um estilo mais eclético, vestindo aquilo que se sente bem. Questionada sobre o que é assédio e se costuma ser assediada, ela remete ao fato de ser “encoxada” dentro de um transporte coletivo, por exemplo, e lembra cantadas ouvidas na rua, como “gostosa”.

Ela conta que, quando coloca uma saia mais curta ou um short, o assédio aumenta: "é a hora que o cara te chama de gostosa, de gata e se você não responde ainda é tachada de mal educada, como se você fosse obrigada a responder”.

A próxima questão trata da reação ao assédio. “Se estou dentro do ônibus, por exemplo, eu me manifesto e falo na lata, porém quando estou na rua eu tenho um certo medo de reagir”. Carolina deixou claro que se sente violada quando este tipo de prática acontece. "A vontade é partir para cima", relata.

Caroline Benitez (Crédito: Arquivo pessoal)

Karila Checon, 24 anos, é uma moça vaidosa. Ela costuma se arrumar dependendo do local onde ela vá, mais para o seu dia a dia opta por um estilo mais simples. Gosta de sapatilhas e vestidos mais soltos.

Interrogada sobre o que é assédio e se costuma ser assediada, ela deixa claro que isso acontece tanto verbalmente quanto fisicamente (toque), e a prática ocorre com mais frequência quando ela está bem vestida, como em baladas e bares.

Quando essa prática acontece o que passa pela sua cabeça? “Raiva, pois todas as vezes em que isso ocorreu eu estava de boa e de repente fui puxada à força”, conta.

Karila Checon (Crédito: Arquivo pessoal)

O que eles acham sobre isso

Ao questionarmos alguns homens sobre como eles veem o assédio, ao contrário do que as mulheres acham, verificaram-se opiniões dividias sobre o assunto. Uma das perguntas feitas indagava se o modo como uma mulher se veste abre brechas para que ela seja assediada.

Emanuel Andrade,18 anos, radialista e estudante de Jornalismo, acha que sim. Aos seus olhos, o modo como a mulher se veste a deixa muito exposta e pode fazer com que ela seja confundida com produto. Andrade trouxe o exemplo de como as mulheres se vestem em bailes funks, onde usam-se roupas mais curtas sem muito pudor, mas avaliou que “a culpa não é exclusiva dela, o homem não deveria se aproveitar de situações”.

Já Mauricio Santos, 52 anos, porteiro, casado, pai de dois filhos e residente em São José dos Pinhais, acha um absurdo o homem pensar que pode fazer algo com uma mulher em razão da roupa que ela veste. “E não pense vocês que eu não olho (risos)”, confessa. Mauricio defende a ideia de que podemos olhar, mas jamais tocar sem a permissão. “Tenho dois filhos e os ensino que mulher não é objeto para ser tratada desta forma”, afirma. Para ele, o assédio é invasão de espaço.

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