Os jovens constantemente estão em busca pela sua identidade própria, e a moda os sugestiona e os motiva nesta escolha.
Na foto, da esquerda para a direita Caio Frankiu, Letícia Costa, Jabes Augusto Venâncio e Angélica Santos de Morais (Crédito: Maria Laura Genkiwicz)
Não é de hoje que os jovens buscam nas roupas e acessórios que vestem uma forma de exprimir sua identidade. Com base nisso, a reportagem da EntreVerbos foi em busca de jovens com estilos diferentes a fim de saber qual a relação que percebem entre a moda e seu jeito de ser.
“A moda sempre foi uma forma de comunicação visual”, afirma a jornalista e produtora de moda Hellen Albuquerque, que tem um portal de notícias idealizado por ela, o Indumentária. A jornalista conta que a moda tem uma importância social e um exemplo disto, na história da humanidade, é o período Bizantino, no qual a divisão social era feita a partir das cores. Já com a Revolução Industrial e, consequentemente, o surgimento das novas formas de produção, a construção da identidade ficou mais acessível, com maiores opções de escolhas. Anteriormente, era restrito apenas às classes mais altas.
Segundo Ana Paola dos Reis, que participou do 3º Encontro Nacional de Pesquisa de Moda (ENPModa), evento que reuniu pesquisadores do país inteiro, a moda se tornou algo subjetivo e íntimo do sujeito em questão. Por isso, jovens com faixa etária muito próxima se vestem de formas tão variadas.
Veja a seguir alguns estilos registrados em um shopping central de Curitiba:
A aluna de dança, Beatriz Yoshizawa, de 16 anos, se veste de uma maneira confortável e define a moda como uma forma de “transmitir uma mensagem”. Para as pessoas poderem escolher se vestir de modo confortável, a vestimenta teve de se tornar “democratizada”, tornando possível o acesso a "n" estilos, peças, cores, formas e variedade de roupas.
Beatriz Yoshizawa registrada com um estilo casual, clássico com cores básicas. (Crédito: Maria Laura Genkiwicz)
Camila Kaston, dançarina de hip hop, de 22 anos, se veste de maneira confortável e flexível para a dança. E sua irmã, Gabrielle Kaston, de 15 anos, conta que gosta de se vestir com um estilo despojado e, também pensa na confortabilidade.
Camila Kaston registrada com um estilo comfy, street pois dança hip hop. (Crédito: Maria Laura Genkiwicz)
Gabrielle Kaston registrada com um estilo fitness “academia” (peças frequentemente usadas na academia), look neutro. (Crédito: Maria Laura Genkiwicz)
Moda e comportamento
O estudo do pesquisador de moda e design Thiago de Lima Torreão Cerejeira, publicado no livro "Corpo e Imagem", relata que “podemos ver em outras épocas como a vestimenta atua diretamente no comportamento humano; é fruto dos costumes e da cultura de um determinado povo. Por estar inserida num contexto social, a vestimenta torna-se representante de etapas importantes do desenvolvimento histórico e cultural.”
A psicóloga Noemia dos Santos Lima Rocha explica que a identidade (idem = igual= semelhante) significa sentir-se parte de algo, ou seja, os jovens não têm ainda uma identidade própria, estão em busca dela. Por isso, pode ocorrer um sentido de pertencimento a um determinado grupo, comparando-se com os demais exemplos de pessoas a sua volta.
Noemia disse ainda que, para tornar mais claro como esse processo começa, pode-se observar que quando os jovens ainda eram crianças, eles não tem um poder de escolha sobre suas roupas, o que já foi regra em outras épocas. Já que nessa época apenas o que é considerado bom ou bonito pelos pais é usado por essas crianças. Quando são adolescentes, buscam sua própria identidade, a partir de referências em vários lugares, como internet, nas ruas, na televisão, enfim, ao decorrer da sua vida.
É unanimidade por eles estabelecer “sentir-se à vontade” com suas roupas e composições. Entretanto,a psicóloga afirma que “as pessoas se vestem na moda para se sentirem reconhecidos, serem aceitos". Alguns escolhem pelo estilo de vida, outras por uma rápida combinação escolhida ao se vestir.
É mais uma busca pessoal sobre o que combina com seu dia a dia e suas preferências. Para saber mais sobre como a psicóloga retrata moda, estilo e comportamento dos jovens em seu cotidiano, ouça o áudio.
Diversidade no look e na personalidade
Na moda, pode-se observar desde o estilo hip hop, passando pelo despojado, como nos estilo das meninas apresentadas no começo do texto. Também pode- se encontrar estilo boho, como na foto da Karina Hernandes, de 19 anos. (veja galeria de fotos). O boho, que nada mais é do que uma combinação de tons terrosos,franjas, batas, botas e chapéus, separados ou combinados em um mesmo look.
De acordo com Helen Albuquerque, nosso jeito de se vestir reflete na nossa personalidade, jeito de ser, modo de pensar e mesmo a nossa história de vida. A estudante Amanda Araújo, de 18 anos, ao ser questionada sobre como pensava sobre a moda em sua vida, disse que acredita "ser algo que não se pode criar, ou você nasce com estilo, ou ele não existe". Comentou ser uma pessoa discreta, mas que gosta de se arrumar.
Há ainda aquelas pessoas decididas, como Queila Priscilla, de 22 anos, vestida de preto, ao pensar sobre moda, identidade e seu estilo, respondeu que “ compra o que gosta, com cores neutras e peças confortáveis”.
Amanda Araújo registrada com um estilo despojado, porém mais casual. (Crédito: Maria Laura Genkiwicz)
Queila Priscilla registrada com um estilo comfy, despojado “ all black” (todo preto). (Crédito: Maria Laura Genkiwicz)
Como afirmou Hellen, nos dias de hoje, a internet democratizou a acessibilidade dos jovens à moda. Segundo ela, “as tendências, acontecimentos, estilos, o próprio conhecimento sobre biotipo e composição estão mais próximos às pessoas”.
A jornalista destaca também o fato de como a era digital nos aproxima do mundo da moda. A internet também auxilia na descoberta de um estilo próprio, porém massifica pela grande quantidade de informação e torna uma “imposição do como usar e fazer”. Quais roupas são certas para cada pessoa, torna as pessoas mais parecidas. “E a moda não é isso, você tem que enquadrar ela em você”, enfatiza.
É possível transpor a sua identidade através das vestimentas. Agora que já explicou-se um pouco sobre tais informações, vem ouvir aqui o que mais ela nos disse sobre isso! Entenda um pouco da história da moda e a relação que ela tem com a nossa identidade. Confira o trecho nesta entrevista.
Veja aqui a nossa Galeria:
Qual o pensamento dos jovens sobre suas próprias identidades?
Pensando em pessoas que não abrem mão de estar por dentro das novidades, Hellen explicou quais são as tendências e o porquê existem algumas vestimentas que permanecem como “must-have” (tradução literal= você tem que ter). Para saber mais, ouça o áudio.
Falamos também com alguns colegas da universidade, e o resultado foi surpreendente! Conseguimos fotografar estilos bem diferenciados, mas não por isso menos “cool” (tradução literal =legal).
Angélica Santos de Morais, estudante de Publicidade e Propaganda de 18 anos, prefere estar “usando um estilo mais neutro, sem estampas, muitas cores e cortes”. Também diz “achar que, para compor um look as peças devem ornar entre si”.
O que mais nos chamou atenção foi uma frase que ela diz “Eu acho que não tem como definir meu estilo, cada um tem o seu. Dependendo do meu humor e o que está planejado para o dia. Eu uso o que me vêm na cabeça. Agora são tons neutros.”
Angélica Santos de Morais registrada com um estilo despojado, investindo em peças claras, no jeans e folk. Sem esquecermos a bota over the knee, a febre da estação. (Crédito: Maria Laura Genkiwicz)
Também tivemos a oportunidade de conversar com outro aluno de Publicidade e Propaganda, Jabes Augusto Venâncio, de 24 anos. Ele afirmou comprar roupas nas quais ”se sente bem, mas que não pensa especificamente em combinações.” Sobre seu estilo nesse dia, diz ter comprado as peças porque as achou básicas, completou comentando que não gosta de peças muito estampadas e, ainda afirmou que “preza a qualidade das roupas, independente da marca.”
Jabes Augusto Venâncio registrado com um estilo “casual, pois na maioria das vezes que compro as roupas, já sei qual estilo de peça comprar". (Crédito: Maria Laura Genkiwicz)
A Estudante de Jornalismo Jéssica Barbosa, de 21 anos, está em seu último período do curso e comentou que no seu dia a dia "eu misturo peças que remetem nos anos 90 e principalmente, roupas que eu me sinta confortável" e ainda opina que “o modo de nos vestirmos diz muito sobre quem somos, qual nossa personalidade, do que gostamos e etc.” Sobre como se veste, seus principais gostos são: calça jeans clara, tênis branco, sobretudos no inverno, mas ainda investe em um look arrumadinho e com direito a batom vermelho.
Jéssica Barbosa. Sobre seu estilo respondeu “Eu amo hip hop, sendo assim, uso bastante camisas longas e tênis”. (Crédito: Maria Laura Genkiwicz)
A estudante de Jornalismo, Letícia Costa, tem 20 anos, e diz “estar sempre ligada nas tendências, gosto de peças confortáveis, pois não tenho dinheiro para sempre estar renovando meu guarda-roupa. Então eu tento compor looks diferentes a partir das roupas que eu já tenho”.
Letícia Costa. Tem como referência vários estilos ,entre eles, boho, grunge e principalmente se baseia no street, (Crédito: Maria Laura Genkiwicz)
Já Arthur Neves, de 21 anos, que também é estudante de Jornalismo, afirmou "usar tais peças porque onde vivo, é um lugar onde o hip hop é muito forte, e isso se torna parte de minha identidade.” Como pudemos perceber, os jovens se baseiam sim na moda como construção de suas identidades subjetivas e. isso não ocorre somente hoje. Em outros tempos o tecido ou a cor das roupas já serviam como identificação de um determinado grupo, assim como as diferentes tribos atualmente.
Pois ao vermos alguém vestido de preto da cabeça aos pés, sabemos que aquela pessoa pensou em um look minimalista, em que apenas um acessório se destaca, ou que ela está com sentimentos dentro de si que gostaria de exteriorizar por meio de suas vestimentas.
Arthur Neves. Sobre seu estilo, tem como referência “o estilo hip - hop e street style”. (Crédito: Maria Laura Genkiwicz)