Nas eleições de 2016 foi grande o número de eleitores que votaram em branco, nulos ou se abstiveram do voto, segundo dados do TRE
Os votos brancos, nulos e abstenções alcançaram uma média nacional de 23 %, segundo o Tribunal Superior Eleitora (Crédito: Divulgação Agência Brasil).
Terminado o período eleitoral, é possível fazer uma análise das eleições deste ano. Para quem acompanhou os resultados, percebeu que o número de pessoas que optaram por não escolher prefeito ou vereador foi bastante expressivo, mesmo diante de várias formas usados pelos políticos para conquistar a preferência dos cidadãos. Somados os votos brancos, nulos e abstenções chegaram a uma média nacional de 23 %, segundo dados divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Muitos eleitores não encontraram propostas e perfis que fossem adequados para o cargo e uma das formas de não participar da escolha foi o voto em branco. Na urna eletrônica há um botão especificamente para isso no qual os votos não são computados para nenhum candidato, sendo uma forma legítima de não dar voto para ninguém.
Existem ainda os votos nulos, que são aqueles digitados por intensão ou por erro - quando os números não correspondem a nenhum candidato ou partido político. No segundo turno em Curitiba, 117 mil pessoas anularam seus votos.
Além disso, o eleitor pode votar no número do partido - são chamados os votos na legenda. Esses votos são repassados para a coligação na qual o partido está aliado.
Outra forma que o votante tem de não participar da escolha é simplesmente se ausentar da votação. Neste caso, é preciso realizar a justificativa eleitoral. Diferente do que algumas pessoas pensam, estes votos não podem cancelar uma eleição, já que a apuração é feita considerando apenas votos válidos.
Os votos brancos, nulos e abstenções ainda que atinjam mais de 50% não podem cancelar o pleito, portanto, se houver um voto válido, este decidirá quem será eleito. Em qualquer situação na qual o cidadão se ausente da responsabilidade de escolher quem vai ocupar o cargo político, seja ele no nível municipal, estadual ou federal, está deixando que outras pessoas escolham.
No primeiro turno em Curitiba foram 212 mil eleitores que não foram votar, 96 mil votos nulos e 51 mil em branco. Esses votos somados chegaram a 359 mil, sendo mais do que os conquistados pelo candidato mais votado, que chegou a 356 mil votos, segundo dados do Tribunal Regional Eleitoral. É um número bastante expressivo de eleitores que não escolheram nenhum dos nove candidatos a prefeito. No segundo turno a situação não mudou muito: foram 44 mil votos em branco, nulos 117 mil e abstenções chegaram à 259 mil, quase um terço não escolheram entre os dois candidatos.
O professor Emerson Urizzi Cervi, do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná (UFPR), analisa que o fato de as notícias sobre políticos estarem mais na parte policial dos jornais contribuiu para descontentamento de forma geral do eleitor. Para ele, as notícias de corrupção não atingiram apenas um ou outro partido político, mas a classe toda está sendo mais cobrada de forma geral.
“O que aconteceu foi um afastamento do eleitor por descrédito da política por um todo. Aqueles que imaginavam que essa campanha contínua ia gerar apenas um efeito sobre um ou outro partido político, caíram do cavalo, porque gerou efeito sobre todos, inclusive aqueles de partidos que são claramente beneficiados pela cobertura, que conseguiram votos para se eleger agora e vão entrar numa legislatura ou mandato menos legitimados”, declarou o professor que participa de grupos de pesquisas sobre eleições.
E o que faz a o eleitor deixar de votar? O professor conta que, geralmente quando começam a sair as primeiras pesquisas eleitorais, os candidatos que estão perdendo começam a disparar acusações contra quem está na liderança, mas esse tiro pode sair pela culatra, ou seja, acabar fazendo com que o candidato que esta sofrendo acusações seja beneficiado.
Segundo o aposentado Mario Gama, 74 anos, um dos motivos para não votar é a falta de propostas e o excesso de acusações feitas durante o horário político. Já Joana dos Santos, 72 anos, não faz questão de votar por causa das promessas enganosas que nunca são realizadas.
No Brasil, quem completa 16 anos já pode votar, mas o voto só passa a ser obrigatório entre 18 a 70 anos. Quando esses eleitores não são mais obrigados deixam de votar e aumenta o número de eleitores aptos que deixaram de exercer o direto de escolha política.
Legitimidade da urna eletrônica
Muito se discute sobre a confiabilidade da urna eletrônica brasileira na computação dos votos. O professor Emerson Cervi acredita que a urna eletrônica é um equipamento confiável e que diminui totalmente os riscos de possíveis fraudes - diferente de como era antes, na urna de papel, onde a contagem dos votos demorava dias e eram feitas por pessoas.
A urna eletrônica foi desenvolvida pelo próprio TSE e já foi testada várias vezes, antes de ser colocada em prática, em 1996, quando tivemos a primeira eleição feita eletronicamente. Hoje, na maioria dos municípios, já há a identificação digital e as urnas. Dessa forma, assim que termina o horário de votação, os equipamentos são levados em carros dos correios até os tribunais regionais, onde é feita a apuração. Cada urna emite um relatório impresso dos votos e fica à disposição dos partidos políticos, caso seja pedido recontagem dos votos.
Entrevista com o professor Emerson Urizzi Cervi (Crédito:Diego Alesson Alves).