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  • Por Icaro Couto

Wicca promove resgate de crenças antigas

Religião atrai adeptos e difunde o paganismo entre seus praticantes

Wicca, tem origem no inglês antigo, e significava aquele que praticava bruxaria. Com o tempo, o termo passou a designar a religião. (Créditos: Icaro Couto)

Num universo de sacerdotes e sacerdotisas, rituais, estudos e atividades práticas, a Wicca é categorizada como uma religião xamânica moderna, baseada em rituais pagãos antigos, e que segue a corrente do neopaganismo - denominação que enquadra grupos que acreditam em crenças europeias anteriores ao cristianismo, como, por exemplo, a religião celta. A palavra wicca, que teria origem no inglês antigo, significava aquele que pratica bruxaria. Enquanto que wicce seria sua flexão no feminino, para identificar aquela que pratica bruxaria. Posteriormente, o termo wicca veio a designar a religião como um todo.

Aileen Daw, 31 anos, pesquisadora em reprodução animal, é bruxa iniciada, dedicada e co-fundadora do Coven (que significa grupo) Labirinto das Sombras, o qual faz parte da Tradição Caminhos das Sombras da qual ela também é dedicadora e iniciadora. Daw começou a praticar a religião wiccana em 2003, sendo dedicada em 2004 e iniciada em 2006. Dedicada refere-se ao praticante que tem compromisso e devoção aos serviços à Deusa, enquanto um praticante iniciado é aquele que segue a religião de maneira mais profunda.

A bruxa conta que a primeira vez que ouviu falar de Wicca foi aos 14 anos, em uma viagem com uma amiga. Aos 15, começou a ler o livro O Poder da Bruxa que foi muito importante como um contato inicial com a antiga religião. Porém, de acordo com ela o chamado veio aos 16 anos, quando encontrou o livro As Brumas de Avalon - famosa série da autora Marion Zimmer Bradley.

Antes de se tornar wiccana, Aileen contou que frequentou alguns eventos da Igreja católica, mas nunca foi assídua e sempre questionou muitos dos dogmas. “Nos últimos dois anos antes de começar a praticar Wicca, eu já considerava que tinha a minha própria religião”, salienta a bruxa. Daw relata que, apesar de seus são quase 13 anos de dedicação e mesmo tendo um status de autoridade em seu grupo, nunca deixou de estudar e buscar aprender mais.

De forma geral, o paganismo ainda sofre por ser visto de forma estereotipada e pejorativa na sociedade atual, e Aileen relata que já viveu situações de preconceito, com pessoas que não conheciam a religião e discriminavam as práticas. Porém, dentro de sua família ela afirma que seus pais sempre foram tranquilos quanto ao assunto. "Mas eu morei com a minha avó e, às vezes, era difícil realizar as prática wiccanas. Meus amigos faziam muita piada, também", relata.

Aileen explica que a associação que muitos fazem entre o paganismo e o mal (satanismo) é fruto de puro preconceito e desconhecimento. "A Wicca não é cristã e Diabo é um conceito cristão. E como a Wicca se baseia em conceitos pré-cristãos, não tem como ser associada ao satanismo", explica. Neste vídeo, a sacerdotisa relata uma breve explicação sobre as origens da Wicca e seus princípios básicos.

Os bruxos solitários

Dentro da Wicca, ainda existem aqueles que preferem estudar e praticar suas magias de modo solitário, de maneira oposta a ideia do Coven ou simplesmente moram em lugares cujo número de praticantes é reduzido ou inexistente, inviabilizando uma experiência coletiva. Tais indivíduos são chamados de bruxos solitários.

Eduardo Barreto, 18 anos, vem de uma família católica não praticante, se identifica como um bruxo solitário e possui seis anos de prática wiccana. Em meados de 2010, pela internet, ele conheceu a Wicca. "Eu sentiu, no entanto, não que estava conhecendo uma religião nova, mas apenas resgatando algo que havia esquecido", explica.

De maneira semelhante a Aileen, o rapaz sofreu com preconceito por parte de algumas pessoas próximas a ele, “ Muita gente se afastou de mim devido ao fato de eu ser bruxo”, relata. Para sua formação como bruxo solitário, Eduardo se dedicou em duas frentes: estudos teóricos e a prática em si. "Equilibre os dois gradativamente. Se você puder contar com a ajuda de uma Tradição para te orientar, o processo se torna bem mais fácil, também”, conta.

A religião wiccana é difundida entre praticantes solitários e covens. (Créditos: Icaro Couto)

Viés sociológico

De acordo com a professora Regina Paulista Fernandes Reinert, graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Paraná e mestra em Sociologia, pela mesma instituição, “a compreensão da história humana passa, necessariamente, pelo reconhecimento de que a religião estrutura, em maior ou menor grau, a sociedade”. Segundo Reinert “a religião está nos fundamentos dos vínculos familiares e no nascimento das cidades e, quanto mais primitiva, mais fonte de moral produzia”.

A socióloga também aponta para as mudanças religiosas que normalmente ocorrem nas sociedades ao longo do tempo, derrubando e erguendo crenças. “Os deuses mudam na medida em que as sociedades mudam. Sócrates foi condenado à morte pelo tribunal ateniense por ter desqualificado os deuses da origem grega e de ter tentado introduzir novos deuses na pólis. Este episódio denota o quão difícil era fazer mudanças na própria lei, uma vez que esta não se dissociava, em sua origem, da religião", comenta.

Regina salienta também que tudo que é desconhecido e que, supostamente, ameace a ordem social logo é visto com hostilidade pela massa. “O desconhecimento de que o costume e a tradição dão sustentação à tudo o que é da moral sempre impediu a aceitação daquilo que é diferente, daquilo que é diverso, como se o novo ameaçasse a harmonia do grupo", argumenta e complementa explicando que "mesmo com o advento da mentalidade moderna, percebemos que as forças refratárias às mudanças continuam sendo um entrave à organização racional-legal dos cidadãos. Isto porque não se pode tocar naquilo que já foi consagrado como o certo, isto é, o comportamento ideal ou a conduta adequada”.

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