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  • Por Amanda Zanluca

“Ai Weiwei Raiz” expõe raízes e problemas da humanidade

A arte contemporânea do chinês busca impactar a sociedade e a vida das pessoas com obras que priorizam contextualização histórica

Obra "Duas Figuras" produzida em Trancoso (BA), que remete a ostensiva sexualidade na cultura brasileira. (Crédito: Amanda Zanluca)

A exposição do artista chinês Ai Weiwei, intitulada de “Ai Weiwei Raiz”, encerrou sua exibição no Museu Oscar Niemeyer (MON), no último domingo, dia 28 de Julho. Esta que foi a maior exposição do trabalho do artista em solo brasileiro, apresentando 40 obras e 15 vídeos. A exposição, que começou em maio deste ano, contou a biografia do artista e revelou as histórias por trás de cada uma de suas obras, provocando reflexões sobre temas relevantes socialmente a quem teve a oportunidade de visitar a exposição.

Ai Weiwei trabalha e utiliza a arquitetura, escultura, audiovisual e fotografia para lembrar as novas e antigas gerações de que existem partes da história da humanidade que são muito mais profundas e obscuras, e de que essas histórias são nossas raízes. Portanto, não se deve esquecê-las ou apagá-las da memória, justamente por serem considerados momentos negativos da nossa civilização.

Helinton Colombo, 54 anos, de Caxias do Sul (RS) visitou a exposição e se disse impressionado com a forma que a questão dos refugiados foi abordada. “Eu acho que todo mundo deveria conhecer, é bem instrutivo. Olhando para essa reportagem da Grécia (aponta para a TV), a gente nota a realidade. O pessoal sendo expulso e tendo que migrar para outro país”. Colombo, que estava de férias em Curitiba, estava visitando o MON pela primeira vez.

Em um tom de sátira, o que mais se percebe predominantemente no trabalho do artista são os seus questionamentos ao sistema político vigente e críticas sociais. O nome “Ai Weiwei Raiz” foi dado em homenagem à um poema de autoria do pai do artista, mas também fazendo referência às raízes do Brasil - uma das obras da exposição, que recebeu o nome de sete raízes e que foi produzida no Brasil.

Uma das peças produzidas em couro com frase grafada no alfabeto armorial. (Crédito: Amanda Zanluca)

O artista viveu durante três anos no Brasil, nos quais se aprofundou na cultura e história do nosso país. A imersão de Ai Weiwei nas raízes profundas e obscuras, como o período da escravidão, impressionou o mesmo a tal ponto resultando na construção de oficinas em diversas regiões do país, como Juazeiro do Norte e Ceará. Oficinas essas em que, em parceria com artesãos brasileiros, foram produzidas um conjunto de peças feitas em couro de boi. Com frases impactantes de pensadores como Paulo Freire e Abdias do Nascimento, de músicas nacionais e do segmento político, as frases que foram grafadas no alfabeto armorial de Ariano Suassuna, fazem alusão ao período da escravidão, em que os escravos eram marcados igual aos fazendeiros fazem com o gado.

Uma das características importantes do trabalho de Ai Weiwei, é a técnica de marcenaria japonesa que o mesmo utiliza em todas as suas obras produzidas em madeira. A técnica consiste em esculpir a madeira e encaixá-las como se fossem um quebra-cabeças, fixando-as sem precisar utilizar cola ou qualquer outro objeto de apoio.

Acessibilidade: vidas impactadas pela arte

De forma audaciosa, a exposição “Ai Weiwei Raiz”, nos mostra uma arte engajada e ativista. Com obras que abordam desde questões sobre direitos humanos a temas como censura, o público é colocado a todo momento de frente com essas questões sociais, que os levam a gerar um pensamento crítico. Mas apesar da arte em exibição de Ai Weiwei ser marcante para quem a visita, nem todos os públicos têm o privilégio de apreciar a arte por completo. Como é o caso de pessoas com deficiência visual, que muitas das vezes não conseguem compreender o trabalho do artista por completo. Sem poder "sentir as obras", sendo o toque o principal estimulador da percepção artística dos deficientes visuais, os mesmos encontram uma arte restrita, em que dispõem apenas de relatos de terceiros a respeito das obras expostas, como referencial para o seu imaginário.

Sem encontrar muita acessibilidade, um grupo de pessoas com deficiências visuais também visitou a exposição. A estudante de letras Laura Kaiser, 18 anos, conta que apesar de ter gostado da exposição, sentiu falta de ter tido esse contato. “Eu achei a história do artista bastante interessante. A única parte negativa foi que a gente não pode tocar nas obras. Apesar de muita coisa ser explicada, às vezes fica uma dúvida ou outra e não conseguimos imaginar realmente como ela é. Mas o artista em si, é muito bom”, completa.

Diele Pedrozo, professora e idealizadora do projeto “Ver com as mãos”, complementa o assunto destacando a importância de ter a inclusão e acessibilidade de pessoas com deficiência visual ao espaço da arte e da cultura. “É o que a gente sempre fala quando faz visita ao espaço, de que existe uma preocupação com a pessoa que tem deficiência, em específico a pessoa com deficiência visual. A gente sente que existe uma dificuldade de compreender que a inclusão, ela de fato acontece quando essas pessoas estão juntas com as outras. Poderiam pensar em como essa visita poderia ser para todos, mais inclusiva em todas as exposições.” finaliza.

Em visita guiada os visitantes conseguem se aprofundar mais na história por trás de cada obra em exposição. (Crédito: Amanda Zanluca)

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