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Marcelo Campos

Arte drag queen na pandemia

Com a explosão de casos do coronavírus no mundo todo, eventos foram cancelados e muitos profissionais da noite desempregados. Artistas que dependiam de festas foram os maiores afetados.

Tchaka, drag queen conhecida como a rainha das festas

(Foto: APOLGBT)


Luzes, glamour, maquiagem exuberante e sorriso no rosto, assim Éverton Turatti, ator que dá vida a Miss Judy Rainbow na noite paulistana. Eram ao mínimo três eventos por noite, uma rotina tumultuada aos fins de semana. Até chegar a participar da primeira festa, eram quatro horas de preparação da personagem.

A arte drag nunca esteve tanto em evidência como nesses últimos seis anos. Pabllo Vittar é a drag queen brasileira com mais relevância no mundo tendo mais de doze milhões de seguidores no Instagram. Essa arte existe desde os primórdios do século XIX, onde o termo “drag queen” ganhou um significado mais específico, designando qualquer homem que se vestisse de mulher com propósitos teatrais, afinal, naquela época as mulheres não podiam participar das peças.


Atualmente, não só de baladas e festas voltadas ao público LGBT+ fazem parte do portfólio das drags. Casamentos do público hétero, festas de quinze anos, convenções e uma infinidade de eventos contam com a presença delas. A polarização dos eventos, obrigou as artistas oferecerem algo como diferencial na hora da contratação. Além de shows passaram para djs, recepcionistas, humoristas e até cerimonialistas.


Tchaka Drag Queen, personagem criada pelo ator Valder Bastos é considerada a rainha das festas, por conta de toda sua interatividade e improviso no momento em que está com os participantes da sua apresentação. Ela está comemorando 22 anos de arte com mais de 5 mil apresentações no Brasil inteiro. “Já fiz apresentações para judeus, para colônia oriental, para o PCC, para famosos, dentro de uma sela do Deic", conta.


Com a chegada da pandemia mundial de Covid-19, em março de 2020, os eventos que chegavam a ter mais de mil pessoas foram cancelados ou adiados. Para uma grande classe que vive da noite, a alegria e o brilho acabram se perdendo, e a dura missão de sobreviver sem aglomerar se tornava quase impossível.


Éverton destaca que a todos os artistas e profissionais tiveram que se reinventar para passar pelas dificuldades naquele momento, “Conheci muitos artistas que usaram de sua criatividade para a sobrevivência, alguns montaram pequenos negócios familiares, alguns investiram no ramo de web loja e alguns simplesmente não tiveram para onde correr” completa.


Já Tchaka, cita uma fala do professor Leandro Karnal para definir o momento. “Ele diz o seguinte: o ser humano passa por quatro etapas em cenários de guerra, fome, frio e pandemia. A primeira etapa é a negação, a segunda a gente diz: é só uma gripezinha, é lá da China, já passa. O terceiro comportamento é a paralisação, a pessoa não consegue respirar. Eu já passei por todas essas, mas estou na quarta etapa que é: existe a guerra, o frio, a fome e a doença, mas eu posso criar ações para caminhar através dessa realidade que está posta. Apesar da volta dos eventos ter sido importantíssimo, tenho tentado me reinventar, estou no momento de ouvir, todo mundo quer falar, gritar e ninguém quer escutar. A Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo tem sido bastante importante em minha vida, fizemos até live com a Pablo Vittar. Tenho aprendido outras moedas, a moeda da troca, da solidariedade, da escuta.”


Miss Judy Rainow, drag queen

(Foto: Arquivo Pessoal)


Mesmo com a volta gradativa dos eventos, esse “novo normal” ainda acaba afetando a classe da drags, por mais que a normalização esteja mais próxima, a quantidade de eventos e tamanho desses eventos diminuiu por um grande período. A redução de gastos ainda acaba intimidando a continuação dessa arte, que perdura por muitos anos levando diversão para o público.

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