Poty Lazzarotto ilustra amor e afeto por sua cidade nos murais espalhados pela capital paranaense
Mural "Imagens da cidade". (Crédito: Priscila Michele)
Este ano faz 24 anos da morte do artista curitibano Poty Lazzarotto, um grande nome da arte brasileira que deixou inúmeras obras, muitas delas representações da cidade que nasceu, Curitiba. Suas obras são encontradas em diversos cantos da cidade: murais gigantes que expressavam seu carinho e afeto pela cidade paranaense.
“O artista pintava o que via, o que sentia e experimentava. Portanto, suas imagens são de natureza reflexiva, refletindo o homem e seu mundo, bem como a sociedade e suas relações com o estado, a economia, a natureza", afirma a artista plástica, Luciana Dranda.
A doutora em Educação Daniela Pedroso, que estudou a obra do artista, fala sobre sua importância para Curitiba e por que ele está tão presente nos espaços públicos da cidade. "Poty é um artista que fala da história da nossa cidade, história do nosso estado e traz na sua poética muitos momentos da sua juventude, dessa vivência que ele teve na cidade. É por isso que ele está muito presente, por contar um pouco da nossa história".
As obras de Poty Lazzarotto são vistas como uma análise histórica da sua época, retratando a realidade do dia a dia das pessoas, como o serviço braçal, a roça, o tropeirismo, os colonos. Segundo Dranda, “Poty pode ser considerado expressionista, focado para a temática social e para a produção de imagens irregulares, assimétricas e complexas".
Uma de suas grandes obras e um dos primeiros trabalhos de Poty como muralista é o painel do Centenário da Emancipação de Curitiba, localizado na Praça 19 de Dezembro em Curitiba, nome este dado à obra e ao dia em que a cidade tornava-se a capital do estado do Paraná. Neste painel de duas faces feito de azulejos é inserida de um lado uma obra de Erbo Stenzel – artista plástico e escultor paranaense, apresentando a história do Paraná, e na outra face retratos de Poty sobre acontecimentos do estado através de uma evolução histórica.
Pedroso cita em seu livro "Poty, murais Curitibanos" a história deste mural, que é dividido em sete partes: dos garimpeiros até o primeiro governo da província, ambas encomendadas pelo governador Bento Munhoz da Rocha Neto, governador do estado em 1951. A artista plástica analisa as obras de Poty como sendo uma composição de signos, na qual a significação ocorre por meio de nossas interpretações.
Poty deixou sua marca quando expressou a realidade do homem de sua época e uma visão futurista do que viria a ser Curitiba atualmente. Sua obra é uma representação viva da cidade. Quem quiser conhecer Curitiba com uma visão histórica, basta olhar para os 43 murais espalhados pela cidade.
(Crédito: Priscila Michele)
Biografia
Em seu livro "Poty, murais Curitibanos", Pedroso nos traz a biografia completa deste artista. Napoleon Potyguara Lazzarotto, filho de italianos, nasceu no ano de 1924 em Curitiba e faleceu em 1998, aos 74 anos, vítima de um câncer no pulmão. Poty era um artista apaixonado por desenhos, trabalhou com gravuras, serigrafia – processo de impressão de texto ou figura com a tinta vazada, litografia – processo de impressão de texto e desenho realizado com uma tinta graxenta sobre uma superfície calcária ou uma placa metálica e murais. Formou-se na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, ilustrou diversas obras literárias como Manoel Ribas, que lhe concedeu a bolsa de estudo para o Rio, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Euclides da Cunha, Machado de Assis, Guimarães Rosa e Gilberto Freire e jornais.
A primeira delas foram os folhetins de Dalton Trevisan, para a revista "Joaquim". O artista ganhou uma bolsa para estudar na França devido a suas amizades intelectuais que já enxergavam seu trabalho. Em suas obras, empregava materiais diversos, como madeira, vidro (vitrais), cerâmica, azulejo e concreto aparente, esse último um de seus materiais de predileção. Poty morou em Paris em 1946, onde estudou litografia na École Supérieure des Beaux-Arts, com bolsa do governo francês. Em 1950, funda, juntamente com Flávio Motta (1916), a Escola Livre de Artes Plásticas, na qual lecionou desenho e gravura. Nessa época, organizou o primeiro curso de gravura do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), de acordo com dados da Enciclopédia Itaú Cultura.
Em agosto de 2014, algumas de suas obras foram tombadas pelo Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (CEPHA) e reconhecidas como Patrimônio Cultural do Paraná. Segundo dados da Secretária de Estado da Cultura e Coordenação do Patrimônio Cultural, “o tombamento dos painéis de Poty Lazarotto significa o reconhecimento da sua contribuição para a cultura local e nacional. Pois, sua obra retrata paisagens urbanas. Seus painéis cumprem plenamente uma das principais funções da arte pública que é a de criar uma consciência histórica coletiva”.
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