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  • Fernanda Guedes e Valeria Walesko

Quando o amor pela arte ultrapassa o desistir

Profissionais de dança relatam como é a experiência de trabalhar na área

Toda a elegância e delicadeza do Ballet

(Crédito: Fernanda Guedes)

Que trabalhar com arte no Brasil não é fácil nós sabemos. Na dança é preciso enfrentar muitos desafios, que vão de altos gastos e estruturas precárias até lesões que podem brecar um praticante. Nesta forma de arte é preciso uma mente criativa, muita técnica e a eterna busca pela perfeição.

Engana-se quem acha que a dança é simplesmente se mover. Em cada ato é preciso ouvir a música sequencialmente para pegar os detalhes que só a concentração pode te dar. O corpo absorve os sons e o revela ao profissional, dando a liberdade de interpretação e a habilidade de transparecer. Nada melhor que profissionais para nos ajudarem a entender e decifrar essa relação pessoal com o mundo da dança e contar suas trajetórias e inspirações.

A bailarina clássica e professora Alícia Montanha, de 38 anos, começou a dançar por influência de uma amiga aos 7 anos, quando pegou o verdadeiro gosto pela coisa. A dançarina fez parte de dois grupos de jazz e experimentou diversas modalidades participando de competições e festivais, até que aos 11 anos entrou para o ballet clássico.

Formada em Publicidade e Propaganda, a profissional enfrentou dificuldades na área de formação e decidiu retornar para a dança. Com falta de incentivo, sem auxílio financeiro e estrutural suficiente, Montanha não desistiu e lutou para conquistar em 2007 sua profissionalização artística. “Fui convidada e me profissionalizei na Cia de Dança Masculina Jair Moraes. Durante 6 anos participei de vários musicais como “O sonho do Cowboy” no Parque Beto Carrero World, em Santa Catarina.”, conta a bailarina.

O Ballet, Hip Hop e Stiletto na prática

(Créditos: Fernanda Guedes)

O paulista Wesley dos Santos, hoje com 25, teve seu primeiro contato com a dança aos 6 anos de idade. Aos 14, se apaixonou por Danças Urbanas e passou a ser monitor em uma academia. O artista que se tornou professor e coreógrafo, relata “Gosto de trabalhar com Danças Urbanas, tento absorver todos os estilos dessa modalidade principalmente no Hip Hop Underground e Comercial conhecendo mais a Dança Contemporânea.”.


Com o incentivo de casa através da sua mãe, que era bailarina, Carine de Araújo, 23 anos, começou aos 4 anos em várias modalidades até chegar ao Stilleto. Foi na escola, aos 14 anos, que ela participou do grupo de competição chamado FB Dance Company, despertando assim o carinho e a vontade de se profissionalizar. Além do Stilleto, a bailarina se encontrou também em outros dois estilos, o ballet e o jazz. “Sinto que o meu corpo se encaixa muito bem na estética delas e posso também unir todas dentro de uma só", afirma.

Assim como diversas áreas, a dança não é feita apenas de alegrias. Desde cedo as pessoas que sentem vontade de adentrar a este mundo encontram dificuldades. “Falta de profissionais qualificados, falta de incentivo da academia, lesões e o quesito financeiro além a idade que é uma grande preocupação” conta a bailarina Montanha.

Para o dançarino dos Santos a dança é muito competitiva e está desvalorizada. Contratantes aceitam profissionais não tão qualificados na área muitas vezes trocando a experiência pelo novo. A dançarina de stilleto, De Araújo, conta que apesar do apoio que sempre teve dos pais, a profissão não era exatamente o que eles esperavam como escolha da filha. Os pais afirmam se preocuparem com o seu futuro mas a profissional pretende manter o estilo de vida e o contato com pessoas incríveis e únicas.

Assim como Carine de Araújo, os dançarinos Alícia Montanha e Wesley Dos Santos comentam sobre o poder da dança em colocar pessoas especiais e inspiradoras em seu caminho. Alicia aponta que passou por muitos professores incríveis, mas leva o Mestre Jair Moraes com carinho na sua vida e lembra que ele dizia “Dançar é rezar com a alma”. Já Wesley se inspira em Keone Madrid e Bam Martin e diz “Não apenas pela dança, mas o que eles mostram dentro da arte é inacreditável, são inspirações não só porque tem um estilo próprio, mas porque dentro disso tudo tiveram um estudo muito qualificado para chegarem aonde estão e isso me motiva.”

Das ruas dos Estados Unidos para o mundo

A dança de rua foi criada pela comunidade negra estadunidense, sendo sua primeira aparição em 1929, durante um momento de grande crise econômica nos Estados Unidos. Artistas da época ficaram desempregados e foram para as ruas mostrar o seu trabalho.

Em 1967, o cantor James Brown criou a dança break através do funk, que explodiu nos EUA em 1981, assim criando caminhos para outros países. No Brasil, os dançarinos colocaram outros elementos na dança, criando o movimento Hip Hop (do inglês: quadril, pulo), dessa forma se expandindo e mudando o sentido da sua biografia e composição.

Break Beat, é a famosa batida de fundo para que os seus dançarinos possam fazer a sua dança por diversão ou batalhas. Dentro da dança, existem alguns outros estilos: Breaking, Locking, Popping e Social Dances que apresentam grande originalidade por meio do improviso.

No Brasil, esse movimento ganhou força em 1982, com o rapper, coreógrafo, pesquisador e militante da Cultura Hip Hop, Marcelo Cirino. Ele já fundou e desenvolveu diversos projetos de dança e música envolvendo a cultura de rua. “Eu comecei a dançar nos bailes e a ensaiar com a comunidade nas praças, garagens e estacionamentos” lembra Cirino.

O clássico que ainda encanta

O Ballet surgiu no século XVI na Itália, mas foi na França que a modalidade cresceu e passou a receber olhares. A primeira apresentação do seguimento Ballet foi realizada em 1581 no casamento do Duque Anne Joyeuse com Marguerite of Lorraine, importantes figuras da realeza francesa. A dança foi coreografada por Balthazar de Beaujoyeulx, compositor e coreógrafo italiano e durou mais de cinco horas. Por ser considerada uma arte puramente fina, a dança chamava atenção principalmente das famílias reais.



Na Rússia, o Ballet também se destacou, e o país é hoje uma das grandes potências da modalidade ultrapassando até mesmo a França. Os russos tiveram grande influência para a popularização do Ballet no Brasil. Foi após a vinda da bailarina russa Ana Pavlova entre 1918 e 1927, que o país passou a se encantar com esse estilo de dança.

Na ponta do salto

A ideia de dançar com saltos e plataformas pode causar estranheza para algumas pessoas. O Stilleto é uma dança atual e muito utilizada por cantoras famosas como Lady Gaga, e no Brasil, a drag queen Pabllo Vittar. Essa modalidade surgiu na década de 1990, em Nova York, criada por Dana Foglia.

Com inspiração no Vogue, Hip Hop e Jazz, a dança pegou emprestado diversos movimentos de chão, braços e pernas para criar as suas coreografias. O corpo alongado, a força e, claro, um bom salto confortável, são uns dos principais elementos necessários para uma boa performance.

Na dança, a concentração também é uma arte

(Crédito: Fernanda Guedes)

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