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Por Amanda Zanluca

Moda Plus Size: o mercado da representatividade

Primeira edição da Feira Fat Fair de Curitiba reuniu marcas criadas a partir das necessidades dos seus próprios criadores

Carol Lippmann, idealizadora da Feira Fat Fair Curitiba. (Crédito: Amanda Zanluca)

Por muito tempo a indústria da moda se dedicou apenas a um determinado público, padronizado e elitista, que utilizava a moda exclusivamente como um diferenciador de cultura, religião e classe social. A globalização transformou este cenário restrito para formas de expressão pessoal, social e artística. Mesmo com essa nova conceituação da moda, que aparentemente incluiria a todos os públicos, há ainda um determinado grupo que é pouco incluído nessa indústria: o plus size - pessoas que vestem manequim a partir do tamanho 44.

Esse seguimento, de acordo com a Associação Brasil Plus Size (ABPS), tem previsto para o ano de 2019 um crescimento de 8% em relação ao ano passado, movimentando R$ 7,1 bilhões. Identificando esta demanda como um espaço para ser explorado, a blogueira curitibana, Carol Lippmann, 34 anos, idealizou a Feira Fat Fair Curitiba de moda plus size.

A primeira edição do evento, que aconteceu em 19 de maio, foi inspirada em uma outra grande feira do ramo que acontece em São Paulo, e que a blogueira acompanha desde a primeira edição, a Feira Pop Plus. “Eu sempre fui nessa feira. Então, eu me inspirei muito neles para fazer uma feira legal no mercado de Curitiba”, conta Carol.

Para a blogueira, a importância de feiras que se dediquem a esse público é a de reforçar a bandeira de representatividade e, também, estimular o mercado plus size no Brasil, que cresce a cada ano. “Eu acredito na importância desse evento, porque a gente não tem muitas opções de moda plus size aqui no Paraná. E a gente tem uma demanda altíssima. Então, esse público, ele é carente de uma moda legal, de alguma roupa que ele goste de vestir e não só aquilo que serve”, argumenta. Carol Lippmann explica o objetivo da Feira Fat Fair.

Carol Lippmann fala sobre a importância da Feira Fat Fair. (Crédito: Amanda Zanluca)

Todas as marcas presentes na Feira Fat Fair foram escolhidas pela blogueira, que procurou trazer para a feira um pouco de cada seguimento da moda. “Foi feito uma curadoria e, conforme iam aparecendo as marcas, a gente foi selecionando aquilo que achava mais interessante para o público do Paraná. Mas eu procurei trazer um pouco de cada, para atender a todos os públicos e a todos os bolsos”, explica a idealizadora.

A Fat Fair Curitiba, além de ter sido um espaço para expor marcas de moda plus size, também foi palco para atrações de música e danças do ventre, cigana e de um aulão de fat dance, atividades que foram realizadas por pessoas que levantam a bandeira plus size. Além disso, contou com a participação de Rafaela Baptista, 29 anos, eleita Miss Brasil 2019, Miss Paraná 2018 e Miss das Praias 2019, todos os títulos na categoria Plus Size. A Miss, que esteve na feira a convite da marca NoauG, reforça que a mensagem que quer passar com os seus títulos não é a de apologia a obesidade, mas a de que o corpo não interfere na busca pela felicidade ou nos planos profissionais. “Independente do nosso biotipo, nós podemos buscar por uma carreira, uma família, porque nós somos muito mais que um número, somos pessoas que querem ser felizes com o seu corpo como ele é”, completa.

Além disso, o evento contou com bate-papos com influencers de Curitiba, que trouxeram pautas sobre empoderamento, autoestima e representatividade. Uma das convidadas, Bruna Scremin, 30 anos, conta que criou o blog e canal Um Palpite para incentivar as pessoas que se identificavam com o seu perfil. No bate-papo com a mesma, não faltaram incentivos para aumentar a autoestima e tópicos sobre a importância da representatividade.

Bruna Scremin criadora de conteúdo do blog e canal Um Palpite, fala sobre a importância da feira. (Crédito: Amanda Zanluca)

A idealizadora da Fat Fair revelou que durante o evento, já recebeu retornos positivos do público. “Eu quero que todos os visitantes da feira se sintam representados. Não só nas roupas, mas também nas atrações que eu estou trazendo. Quero que eles se enxerguem, que tenham empatia e que se reconheçam no outro”, conta. Ela complementa explicando que os resultados positivos a estimulam a realizar outras edições da feira.

Moda que surge da própria necessidade

Hoje a moda se tornou uma forma de expressão. Quando procuramos por vestir algo que transmita nossa identidade, também estamos buscando por uma aceitação da sociedade. É por isso que se torna tão importante ter pessoas que levantem a bandeira da representatividade, lema de todas as marcas presentes na Feira Fat Fair.

Criadores das marcas presentes na primeira edição da Feira Fat Fair Curitiba. (Crédito: Amanda Zanluca)

Como a marca Rainha Nagô, criada pelo estilista paulistano Diego Soares de 33 anos, que conta que a marca surgiu por uma necessidade. Diego que sempre se identificou com o estilo street wear, mas não encontrava roupas do estilo no seu tamanho, decidiu criar sua própria marca. Com inspirações da cultura americana e africana, Diego revela como foi entrar no mercado desse seguimento: “Na realidade fomos muito bem recebidos, porque nós entramos num “bum” de necessidades. Hoje em dia até se encontra bastante roupas, mas antigamente não tinha essa possibilidade de achar uma roupa que vestisse bem. Só tinha aquela roupa que cabia e era de tiozinho. Bem tradicional”, brinca o estilista.

Outra marca que surgiu de uma necessidade é a For All Types, criada em 2015 pela curitibana Bianca Reis, de 25 anos. A empresária viu a necessidade de criar lingeries que fossem confortáveis, mas também bonitas. Assim, ela desenvolveu um novo sistema de medidas e modelagem para a sua própria marca de lingeries e biquínis. Em um mercado que era pouco inexplorado, Bruna conta uma das inovações de sua marca: “Foi uma das primeiras marcas que teve um ensaio, com uma modelo de fato gorda para lingerie. Naquela época eram medidas muito menores que faziam parte das fotos, e isso acabou dando um destaque bem legal pra marca”, afirma.

Primeira edição da Feira Fat que aconteceu em Curitiba. (Amanda Zanluca)

Da necessidade a acessibilidade a marca Wonder Size criada por duas amigas, sendo uma delas a paulistana Amanda Momente, se preocupa em criar roupas que atendam a necessidade de um público esquecido. Esse é o foco principal da marca Wonder Size, conforme explica Amanda: “Toda a nossa criação tem a ver com a mobilidade de uma pessoa gorda, todas as nossas peças são voltadas para uma performance esportiva. E a nossa intenção é levar acessibilidade e mobilidade para essas pessoas através de uma roupa, para que elas tenham a liberdade de serem o que quiserem”.

Com o objetivo de moda como expressividade surgiu a marca Delphina, criada pela carioca Renata Amaral, de 37 anos. A designer criou a marca por não encontrar peças que permitissem ser quem ela queria ser. Criadora de suas próprias peças, Renata sempre era questionada sobre a origem de suas roupas, e vendo a oportunidade de mercado criou a sua própria marca. Inspirada pela moda romântica, ladylaki e moda clássica, a designer frisa a importância da sua marca: “A gente está conseguindo o nosso espaço justamente porque antes não tinha essa opção para quem tem um gosto mais apurado, com uma modelagem e alfaiataria mais refinado. Então, o Delphina surgiu com essa proposta de trazer algo mais chique, mais elaborado”, completa.

Diversidade na passarela

Victor Hugo Reis representante da agência CasaBlanca. (Crédito: Amanda Zanluca)

Outro evento que acontece em Curitiba e que dá destaque a diversidade, é o Fashion Week Experience realizado pela Agência de modelos CasaBlanca. O evento possibilita as pessoas comuns terem um dia como modelo, como afirma o representante da agência Victor Hugos Reis: "O Fashion Week Experience, é uma experiência. Uma experimentação da carreira de modelo por um dia. E o objetivo do evento é de descobrir novos talentos e dar espaço a todas elas".

Além da experiência, o evento quebra paradigmas ao possibilitar que pessoas comuns desfilem para marcas conhecidas do setor fast fashion. Os participantes do evento recebem treinamento, produção de beleza, um book fotográfico e também um agenciamento (cadastramento no site do experience, para elenco de apoio no seguimento de publicidade). Esse também é o único evento que alia o processo de agência de modelo, com a estrutura e o formato de grandes eventos de moda, como o São Paulo Fashion Week e grandes shows que acontecem em lojas do mundo da moda.

Segundo Victor, há espaço para esses novos talentos: "Há duas linhas no mercado, o de passarela e o de publicidade. Se você tem o biotipo de passarela, alta, magra e bonita (aos olhos dos diretores de casting e dos de marketing que definem como querem sua campanha), e tem o mercado publicitário que só precisa ter pele boa, uns dentes bonitos e simpatia. Isso é o mercado. Moda e publicidade, coisas distintas e propostas distintas. Um é vender roupa, e o outro é vender o conceito", revela.

O Experience é voltado para o mercado de publicidade, mas há casos em que se descobrem talentos para o mercado de passarela. Os participantes que passam pela Fashion Week Experience e se interessam pela carreira de modelo, precisam estudar e tirar sua DRT (Registro Profissional) emitido pela Delegacia Regional do Trabalho, que permite trabalhar como modelo profissional.

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